Título: Lula deve ser próximo alvo, dizem opositores
Autor: Adriana Vasconcelos, Maria Lima e Berbardo de la P
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 17

Tasso defende a prisão de Mattoso e considera a substituição de Palocci `solução caseira, medíocre¿

BRASÍLIA. A oposição não se surpreendeu com a demissão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Antes mesmo da confissão do presidente da Caixa, Jorge Mattoso, também demitido, o afastamento de ambos já vinha sendo cobrado publicamente. Tucanos e pefelistas deixaram claro que pretendem continuar no ataque e que o próximo alvo deverá ser o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), que até bem pouco tempo era um dos defensores de Palocci na oposição, defendeu a prisão de Mattoso.

¿ Palocci começou a cair quando o governo impediu o depoimento do caseiro na CPI dos Bingos. Ali, o ministro perdeu as condições de dialogar, mostrou que tinha algo a esconder. Depois veio a quebra do sigilo de Francenildo, a violação de um artigo da Constituição. Mattoso não pode ser apenas demitido, tem de ser algemado, jogado num camburão e preso ¿ recomendou Tasso, acrescentando que o substituto (Guido Mantega) foi uma ¿solução caseira, medíocre¿.

Para o líder da minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), o afastamento do ministro da Fazenda não é suficiente para pôr fim à crise ética e moral do governo. Na sua opinião, Lula prestaria um grande serviço à nação se desistisse da eleição e nomeasse um Ministério de notáveis até o final do mandato.

¿ O problema é Lula. Palocci é apenas a ponta do iceberg, mas o gelo já está corroendo por baixo o governo. Lula assumiu com o apoio do tripé Palocci, José Dirceu e Gushiken. Mas está conseguindo empurrar todos os amigos para o buraco e continua se equilibrando com o discurso autista de que nada sabia, de que estava nas nuvens. Deus queira que peça para sair e desista da reeleição ¿ sugeriu.

Congressistas: crise continua apontando para Lula

Para o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), chegou a hora de a oposição repensar se deve continuar preservando Lula de um possível processo de responsabilização pela crise ética e moral que começou com o escândalo do mensalão. Sobre a demissão do ministro, parlamentares de oposição foram unânimes em dizer que não estanca a crise, que continua apontando para Lula.

¿ Se a oposição tiver juízo, agora é a hora de apurar tudo até o fim, chegue ou não ao presidente Lula. Não podemos nos contentar, no caso Francenildo, com a demissão de Palocci, de Matoso ou de quem vazou o sigilo quebrado. Não há mais como esperar novos elementos para responsabilizar Lula. Ele tem pecados que recaem sobre ele por várias gerações ¿ salientou Neto.

O líder PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), não escondia sua preocupação com o futuro do país, diante da substituição de Palocci:

¿ O ministro da Fazenda foi destronado por um humilde caseiro. O governo Lula exorbitou terrivelmente e chegou ao extremo de, pela via do crime, tentar salvar um ministro. Espero que seu substituto seja firme para manter as metas de inflação, o câmbio flutuante e o superávit primário.

Já o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), disse que Palocci lutou para ficar:

¿ Ele só pediu demissão depois que o outro (Mattoso) o entregou. O ministro ia tentar se sustentar. Afinal, mesmo depois de tantas mentiras e de tantas provas ele havia ficado.

O senador tucano Antero Paes de Barros (MT), exaltado, na tribuna do Senado, Antero chegou a defender a prisão dos dois:

¿ Palocci e Mattoso são candidatos a presidiários, e não a ex-ministro e ex-presidente da Caixa Econômica Federal.