Título: DENÚNCIAS DERRUBAM ASSESSOR DE ALCKMIN
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 28/03/2006, O País, p. 18

Roger Ferreira pediu demissão por causa da revelação de suposto favorecimento na distribuição de verbas publicitárias

SÃO PAULO. Denúncias de fraudes no governo de São Paulo derrubaram ontem Roger Ferreira, assessor especial de comunicação do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Alegando que não gostaria de servir de pretexto para atrapalhar a candidatura de Alckmin à Presidência, Ferreira pediu exoneração depois de ter o seu nome envolvido no esquema de direcionamento de verbas da Nossa Caixa para deputados aliados na Assembléia Legislativa. Embora afastado do governo, Ferreira terá função estratégica na campanha de Alckmin, segundo interlocutores. A bancada do PT tenta aprovar ainda hoje a convocação de Ferreira para depor na Assembléia Legislativa.

Na carta, o assessor disse não ter feito nada na sua gestão que ¿ferisse os ditames da ética e do espírito público¿. Ferreira é acusado de trocar correspondências eletrônicas com um ex-diretor do banco para a instituição dar atenção especial a veículos de comunicação ligados a aliados do governador.

Alckmin chama denúncias de eleitoreiras

Ainda ontem, Alckmin classificou como eleitoreiras as denúncias de ingerência política nos negócios da Nossa Caixa. Segundo ele, as denúncias que surgiram no fim do ano passado apenas voltaram à tona porque ele agora é candidato à Presidência da República.

¿ Nós já concluímos uma sindicância. Essa matéria que está no jornal refere-se à sindicância feita por nós. Se eu não fosse candidato, isso não viria para os jornais, mas como eu sou candidato.. ¿ disse Alckmin, procurando, inclusive, desqualificar a descoberta da troca de e-mails entre um de seus assessores e o ex-gerente de marketing do banco Jaime de Castro Junior.

Os e-mails mostram que o dinheiro de publicidade do banco foi usado em jornais, revistas e programas mantidos ou indicados pelos deputados estaduais Wagner Salustiano (PSDB), Bispo Gê (PTB), Afanázio Jazadji (PFL), Vaz de Lima (PSDB) e Edson Ferrarini (PTB). Segundo o governador, as denúncias foram pinçadas em cinco dos cerca de 500 veículos que recebem verba da Nossa Caixa.

¿ Estamos falando de 500 veículos de comunicação e foram pinçados cinco casos. Não há ingerência política. A Nossa Caixa está no novo mercado, tem governança corporativa e total transparência de ações.

Sobre a troca de e-mails, o governador foi enfático:

¿ O e-mail não é do governo, estão pegando um e-mail que não tem ninguém do governo. Se eu citar você quer dizer que isso é verídico ¿ disse Alckmin, aos jornalistas.

Ao comentar as denúncias, o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, disse não acreditar que o caso possa ser usado pelo PT na campanha contra Alckmin.

¿ O governador já deu as explicações necessárias e para mim o assunto está encerrado.

Além de Ferreira, a Assembléia quer ouvir o presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, o presidente da agência de publicidade Contexto, Saint Clair Vasconcelos, e Jaime de Castro Júnior, ex-gerente de marketing da Nossa Caixa, que denunciou o suposto esquema de uso de verbas de publicidade para fins políticos. Os depoimentos serão pedidos pela oposição na Comissão de Orçamento e Finanças da Assembléia.

Alckmin abafou 69 pedidos de CPI

Com um sólido time governista na Assembléia, capitaneado pelo presidente da Casa, Rodrigo Garcia, o governador Geraldo Alckmin conseguiu abafar todos os 69 pedidos de CPIs apresentados pela oposição em seu governo. O pedido de CPI do caso Nossa Caixa, por exemplo, foi apresentado em fevereiro, mas ainda não foi aprovado.

Os petistas agora querem passar um pente-fino nos contratos da agência Contexto com o governo Alckmin. Segundo Tato, desde 1997 foram 23 contratos no valor de R$130 milhões.

O Ministério Público de São Paulo também investiga os contratos. Segundo o promotor Sergio Turra Sobrane, a empresa é investigada desde o fim do ano passado e o primeiro depoimento está marcado para dia 12: Jaime de Castro Júnior, que, demitido da Nossa Caixa, apresentou um dossiê com as denúncias de manipulação das verbas publicitárias.

COLABOROU Tatiana Farah, especial para O GLOBO