Título: LEVY: REDUÇÃO DA LIQÜIDEZ NÃO PREOCUPA
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 28/03/2006, Economia, p. 27

Secretário prevê que Brasil passará tranqüilo por alta de juros no exterior

SÃO PAULO. O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, disse ontem que o Brasil está preparado para enfrentar uma nova onda de redução da liquidez nos mercados internacionais. Depois de um período razoável de fartura nos fluxos mundiais de capital, crescem as expectativas de alta nos juros de grandes economias, como as da Europa, do Japão e também dos Estados Unidos, que já iniciaram em 2005 ajustes nas suas taxas.

¿ Uma das razões de tranqüilidade diante de um ajuste externo vem do fato de que há alguns anos o Brasil tinha um prêmio de risco de 800 pontos base e dependia fortemente de financiamentos internacionais ¿ disse Levy, lembrando que em 2000 o país necessitava de cerca de US$30 bilhões de financiamentos externos para fechar as contas do balanço de pagamentos. ¿ É diferente ajustar as contas com tanta necessidade de capital.

Hoje, com o risco-país em 200 pontos e a folga nas contas externas ¿ o Brasil registrou saldo positivo de 1,8% do PIB na conta corrente em 2005 ¿ haveria margem para o país fazer frente a um enxugamento na oferta de recursos internacionais, disse Levy. O caminho, disse, seria manter a atual linha de responsabilidade fiscal e fortalecer as condições para o país receber mais investimentos diretos.

¿ Nos últimos anos, o país acabou perdendo participação nesses investimentos também porque havia um certo excesso de capacidade industrial na economia ¿ disse Levy, que participou ontem do seminário ¿Brasil rumo ao investment grade¿, em São Paulo, antes do anúncio da demissão do ministro Antonio Palocci.

O secretário do Tesouro disse ainda não temer que as baixas taxas de crescimento do país dificultem a atração desses recursos. Levy lembrou que boa parte dos investimentos diretos hoje não se restringe a projetos voltados aos mercados locais para os quais se deslocam, mas também a unidades industriais exportadoras, como acontece com a China.

¿ Só crescimento não é explicação ¿ justificou. ¿ Hoje, o Brasil tem enorme vantagem do ponto de vista institucional e o que podemos fazer é aproveitar que somos um país mais organizado que os outros para atrair esses investimentos.