Título: BIRD QUER MUDAR ATUAÇÃO NO BRASIL
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 28/03/2006, Economia, p. 27

Objetivo do banco, que investe US$1,5 bi, é privilegiar infra-estrutura

BRASÍLIA. O Banco Mundial (Bird) decidiu mudar sua forma de atuação no Brasil. A instituição, que financia projetos no país desde 1949 e aplica cerca de US$1,5 bilhão por ano no desenvolvimento econômico e social, vai reduzir o número de operações para passar a se concentrar em grandes obras como as de infra-estrutura. Segundo o diretor do Banco Mundial para o Brasil, John Briscoe, a idéia é que o novo programa ajude o governo a superar desafios como acelerar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) num ambiente em que os investimentos públicos são limitados por restrições fiscais.

Briscoe explica que os recursos da instituição não precisam mais ser aplicados de forma pulverizada. O banco financia hoje 48 projetos de todos os portes com os governos federal, municipal ou estadual.

¿ O programa está muito disperso, em quase todos os setores e estados. Mas nem todos os estados e nem todas as áreas precisam do banco. Ele ficará menor, mas será mais ambicioso.

O diretor ressaltou, no entanto, que isso não significa que o volume de recursos destinados ao Brasil vai diminuir. O valor continuará oscilando entre US$1,5 bilhão e US$2 bilhões por ano. Mas esse dinheiro será investido em cinco áreas prioritárias: projetos de infra-estrutura, melhoria da gestão pública, desenvolvimento humano, desenvolvimento sustentável na Amazônia e redução da pobreza no Nordeste.

Na avaliação do diretor, o Brasil precisa de ajuda, por exemplo, para acabar com gargalos de infra-estrutura. Ele lembrou que enquanto a China aplica 6% do PIB nesta área, o Brasil investe menos de 1%. Segundo ele, a instituição poderia ajudar não apenas com investimentos, mas trazendo experiências de outros países que já passaram pelo mesmo problema.

¿ O Brasil precisa não só de dinheiro, mas de experiências de outros países para tentar ajudar a superar seus desafios ¿ disse ele.

Briscoe contou que a mudança na forma de atuação do Banco Mundial no Brasil começou com a chegada de Paul Wolfowitz à presidência da instituição no ano passado. Indicado pelo presidente George W. Bush, ele vinha sendo pressionado por uma ala conservadora do banco a rever a forma de atuar da instituição no mundo. Segundo Briscoe, havia forte pressão para que ela se limitasse a apoiar países extremamente pobres, o que deixaria o Brasil de fora.

Mas o presidente da instituição esteve no país no fim de 2005 e conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros. Segundo o diretor, Wolfowitz ouviu das autoridades brasileiras que a atuação do Banco Mundial era importante para ajudar o país, especialmente num momento em que há restrições fiscais para fazer investimentos.

¿ Chegou-se à conclusão de que o Banco Mundial ainda tem um papel no Brasil, que é o de ajudar o país a resolver desafios paradigmáticos ¿ disse o diretor.

Ele ressaltou que apesar de o Brasil já ter obtido avanços em áreas como o controle da inflação, ele também enfrenta problemas graves como o déficit da Previdência Social:

¿ Vejo o Brasil com bastante otimismo. O país funciona sob um sistema democrático, tem um empresariado sofisticado e competitivo e tem a estabilidade econômica. Mas o problema dos gastos públicos ainda é grave.

Ele também disse que não há preocupação em relação às eleições ou a uma eventual troca de governo:

¿ O Brasil está num outro nível. Desde o Plano Real, há estabilidade na economia e a sociedade não permitiria que ninguém fizesse loucuras com a política econômica ¿ disse.