Título: A verdadeira origem do dinheiro eram cofres públicos e empresas privadas, diz
Autor: Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 30/03/2006, O País, p. 4

Relatório de Serraglio cita Banco do Brasil, Usiminas e Brasil Telecom

BRASÍLIA. Um dos motivos de maior polêmica entre governo e oposição ficou por esclarecer no relatório da CPI dos Correios: a origem dos recursos que abasteceram as contas de Marcos Valério, que distribuía o dinheiro aos políticos aliados do governo. Dos cerca de R$55 milhões repassados por Valério, a CPI encontrou entre recursos públicos e privados cerca de R$31 milhões, segundo a complexa descrição do esquema feita no relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O assunto é tratado no capítulo ¿A verdadeira origem dos recursos¿.

A maior parte desse dinheiro, segundo o documento, teria saído do Banco do Brasil, por intermédio da Visanet. A Brasil Telecom e a Usiminas também são apontadas no relatório como fontes do valerioduto. Serraglio disse ontem que foram encontradas notas fiscais falsas na prestação de contas da DNA Propaganda, agência de Valério, à Visanet e que pelo adiantamento de R$12 milhões ainda não há explicação.

¿A DNA Propaganda, e, em decorrência, seu principal dirigente, Marcos Valério, auferiu ganhos no total de R$23.911.422,00. Além desse ganho financeiro, o Banco do Brasil, proporcionou a Marcos Valério a possibilidade de utilização, dos valores adiantados pela Visanet, como garantia das operações financeiras...¿, afirma o texto.

Diretoria do BB autorizou adiantamentos à DNA

Num dos capítulos, ¿As vantagens de Marcos Valério¿, Serraglio diz que de forma indiscriminada a diretoria do Banco do Brasil autorizou os adiantamentos à DNA o que permitiu que Valério os usasse conforme suas necessidades e auferisse vantagens de várias maneiras. O relatório cita ainda o uso dos recursos da Visanet como garantia de empréstimo tomado por Valério no BMG e repassado ao PT.

¿O escritório Lanza Tolentino & Associados, em 26/04/2004, contratou empréstimo junto ao BMG no valor de R$10 milhões garantido por aplicação financeira em CDB realizada em 22/04/2004 pela empresa DNA naquela instituição. Os recursos aplicados pela DNA são provenientes do adiantamento da Visanet no valor de R$35 milhões, inicialmente depositados na conta nº601.999 em 15/03/2004 e aplicados integralmente em fundo de investimento do BB vinculado a esta mesma conta. Na data em que foi comprado o CDB no BMG, foram resgatados daquele fundo e transferidos para o banco BMG R$10 milhões líquidos¿, explica o texto.

Quando trata dos recursos privados que entraram nas contas de Valério e foram destinados ao esquema, Serraglio cita a Usiminas e a Brasil Telecom como principais fontes, com aproximadamente R$3,5 milhões cada uma.

¿Os trabalhos da CPI conseguiram alcançar resultados que comprovam que os recursos obtidos também com as empresas privadas alimentaram o valerioduto¿, afirma o texto.

Para citar a Brasil Telecom, Serraglio usou como base as informações remetidas à CPI pelos novos advogados da companhia. Eles informaram que a então presidente da BrT, Carla Cicco, encomendou, em julho de 2004, sem passar pelo departamento de marketing da empresa, a elaboração de trabalhos específicos às agências de Valério. ¿No caso, a contratação paralela ainda veio com a instrução de que os respectivos pagamentos, que somaram R$3,5 milhões fossem realizados antes da entrega dos serviços contratados¿, diz o documento remetido à CPI. ¿Estranhamente, os trabalhos acima somente foram encaminhados à área de marketing da companhia este ano, quando as indigitadas agências já eram alvo das mais variadas suspeitas, dentre elas a de receber por serviços inexistentes¿.

À época, a direção da companhia travava uma guerra com os fundos de pensão para manter o controle da empresa.

Pagamentos de R$3,5 milhões da Usiminas

Em relação à Usiminas, o texto afirma: ¿Em análise detalhada dos registros de contas a pagar do grupo Usiminas e respectivas notas fiscais da SMP&B foi possível verificar ainda que, no período de agosto a setembro de 2004, foram feitos diversos pagamentos que montam a R$3,429 milhões suportados por notas fiscais cuja descrição dos serviços importam em dúvidas quanto à prestação real dos serviços¿.

Serraglio cita ainda como indício de participação da Usiminas no valerioduto o caso do deputado Roberto Brant (PFL-MG), que informou em agosto do ano passado que o dinheiro que havia recebido das contas de Valério se tratava de uma doação irregular para sua campanha feita pela empresa mineira.