Título: Delcídio foi ao Palácio do Planalto na véspera
Autor: Bernardo de la Peña e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 30/03/2006, O País, p. 9

Serraglio, o relator, sofreu pesadas pressões e se escondeu na madrugada para conseguir concluir o texto

BRASÍLIA. Uma discreta sala no segundo andar do prédio do Senado ¿ onde, escondido, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), passou parte da madrugada de ontem ¿ foi o palco de um embate entre o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e os relatores-adjuntos Eduardo Paes (PSDB-RJ) e Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) na véspera da leitura do relatório. O jogo de pressões em cima do relator foi pesadíssimo. E a oposição atribuía ontem ao senador Delcídio Amaral todo o trabalho nos bastidores que garantiu a retirada do nome de Fábio Luiz Lula da Silva e dos negócios de sua empresa Gamecorp do texto.

Incomodado com a falta de entendimento entre governo e oposição, Delcídio se queixou da falta de diálogo na reunião com os sub-relatores, enquanto eles tentavam manter intactos os textos entregues a Serraglio com um tom mais crítico ao governo. Foi uma longa madrugada de reuniões e negociações. No relatório sobre os fundos de pensão, elaborado por Neto, por exemplo, os pedidos de indiciamento por formação de quadrilha também foram retirados.

A operação para que as referências a Lula, no capítulo específico sobre o mensalão, fossem mais amenas foram atribuídas pela oposição a Delcídio. Depois de uma reunião no Palácio do Planalto que só terminou depois das 22h da terça-feira, o senador teria convocado uma reunião para acertar os detalhes finais do relatório com Serraglio, sem a presença dos adjuntos. Sentindo-se acuado, o deputado teria pedido socorro a representantes da oposição.

¿Não recebi pressão, sumi¿

Delcídio negou que tenha recebido qualquer orientação do Planalto e muito menos que tenha pressionado Serraglio:

¿ Não houve qualquer pressão. No máximo, representantes do governo e da oposição fizeram sugestões, mas Serraglio teve liberdade e autonomia.

¿ Não recebi pressões porque eu sumi ¿ desconversou Serraglio.

Uma guerra de informações, com espionagens de ambas as partes, marcou a véspera da apresentação do relatório final da CPI. O deputado Asdrubal Bentes (PMDB-PA), por exemplo, teria participado de reuniões da oposição e depois repassado a estratégia traçada para os governistas. Outro que foi assediado por ambas as partes foi o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), mas ele estaria mais propenso a acompanhar o governo para assegurar algumas alterações na parte do texto que faz referências aos Correios -¿ que implicaria suspeitas sobre os petebistas de São Paulo que tem negócios com franquias dos Correios.

O deputado Carlos William (PSC-MG) também teria negociado seu voto com o governo em troca da retirada de referências e pedidos de indiciamentos no trecho que trata de irregularidades cometidas pela Prece, fundo de pensão da Companhia de Águas e Esgoto do Rio (Cedae).

A oposição estranhava o fato de não haver referência à nova lista de mensaleiros, que teria motivado o adiamento da leitura do relatório final, prevista inicialmente para terça-feira. Teriam ficado com Delcídio documentos que identificariam os parlamentares beneficiados com transferências de recursos de corretoras ligadas a fundos de pensão e novos saques confirmados no Banco Rural.

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