Título: MARCA PRÓPRIA NA POLÍTICA ECONÔMICA
Autor: Soraya Agege de Carvalho
Fonte: O Globo, 29/03/2006, Economia, p. 27

Para empresários e economistas, ministro vai acelerar queda dos juros

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA. Embora reste pouco tempo para o fim do atual governo, o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, imprimirá marca própria na condução da política econômica, diz o economista Francisco Vignoli, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, que dividiu com Mantega a cadeira de Economia Brasileira do Departamento de Planejamento e Análise Econômica da Escola de Administração da FGV-SP desde 1990 até o fim de 2002. O traço que deve diferenciar sua gestão, acredita, será criar meios para flexibilizar o arrocho monetário, viabilizando um crescimento mais expressivo da economia este ano.

- Ele certamente vai imprimir uma característica própria à frente da Fazenda, sem mudar as linhas gerais da política econômica - diz Vignoli.

Segundo ele, não há risco de o novo ministro ceder a pressões eleitorais na área fiscal. Foi Mantega, lembra Vignoli, à frente do Planejamento, quem elevou de 3,75% para 4,25% do PIB a meta de superávit primário, logo no início do governo Lula.

Mercado financeiro deve se acalmar hoje, diz Cypriano

Empresários presentes à posse de Mantega receberam bem o discurso de continuidade. A expectativa geral é que a economia não deverá sofrer sobressaltos e que o mercado financeiro deve começar a voltar à normalidade ainda hoje. Mas é a disputa em torno dos juros, na qual o presidente Lula não quer que Mantega se meta, que mais anima o mundo corporativo.

- Já está bem definido que não haverá mudanças. Amanhã (hoje) o mercado já estará mais calmo - afirmou Márcio Cypriano, presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e do Bradesco.

Já o vice-presidente da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto, disse que Mantega poderá acelerar a redução das taxas de juros, o que será muito positivo para o crescimento econômico.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, afirma que Mantega precisa aproveitar o atual cenário econômico, com inflação sob controle, para acelerar a redução das taxas de juros, como a TJLP:

O presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho, também acredita que não haverá mudanças estruturais na economia, mas que há espaço para uma redução mais rápida das taxas de juros.

Para o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, que dá aulas de economia internacional há dez anos na FGV de São Paulo, o ministro nem vai dar uma guinada na política econômica nem vai querer fazer mais do que o pedido, como ocorreu com Palocci, que produziu superávit primário maior do que a meta, por exemplo.

Isso será possível, diz Batista Junior, porque Mantega tem orientação desenvolvimentista mas é eminentemente técnico e não tem projeto político próprio. Ou seja, é mais pragmático do que doutrinário: não vai querer implementar agora alguma tese defendida no passado.