Título: MERCADO FINANCEIRO ADMITE EXAGEROS E DÓLAR REDUZ TRAJETÓRIA DE ALTA
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 30/03/2006, Economia, p. 26

Moeda, porém, se mantém acima de R$2,20, cotada a R$2,214. Bolsa sobe

Após dois dias de muito nervosismo e oscilações, em que chegou a acumular alta de 2,55%, o dólar reduziu ontem o ritmo de valorização frente ao real. A moeda americana encerrou os negócios em alta pelo terceiro dia consecutivo: 0,23%, cotada a R$2,214 para venda. Investidores consideraram exagerado o movimento dos últimos dias e, desde o fim da manhã, exportadores aproveitaram as cotações mais altas para vender moeda. No início do dia, porém, o dólar chegou a ser negociado a R$2,243, um avanço de 1,54% em relação a véspera.

A ausência do Banco Central (BC) nos mercados à vista e futuro de câmbio também ajudou a empurrar a cotação para patamares mais baixos. Ontem, pelo terceiro dia consecutivo, o BC não realizou o tradicional leilão de compra de moeda à vista. E, há três semanas, não promove leilões de swap cambial reverso, que funcionam como uma compra de dólares no mercado futuro.

Embora persistam as incertezas em relação à condução da política macroeconômica na Fazenda sob o comando do novo ministro Guido Mantega, investidores decidiram tirar partido da especulação dos últimos dias para comprar ativos a preços bem mais baixos, aumentando, assim, seu potencial de lucro. A forte alta das bolsas americanas ajudou a manter o clima de recuperação. O índice Dow Jones avançou 0,55% e a Nasdaq, 1,45%, para o maior nível em cinco anos, também recuperando perdas recentes.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que caiu 2,38% nos dois primeiros pregões da semana, subiu 2,21% ontem. O risco-Brasil, indicador da confiança dos investidores estrangeiros no país, recuou 3,32%, para 233 pontos centesimais. Nos últimos dois dias, havia avançado quase 4%. O Global 40 subiu 0,47%, cotado a 128,6% do valor de face.

Tesouro volta a cancelar leilões de títulos públicos

Um dia após o banco americano JP Morgan recomendar a redução da aplicação em ativos brasileiros, o inglês HSBC enviou a clientes documento reafirmando os pesados investimentos no Brasil, apesar do troca-troca na Fazenda. ¿Mantemos a posição acima da média do mercado em ativos brasileiros. Acreditamos que os fundamentos do país continuam sólidos e não prevemos uma ruptura com a política econômica recente¿, diz o relatório.

Ontem, o Tesouro Nacional decidiu novamente cancelar leilões de títulos públicos que seriam realizados esta semana. Estavam previstos leilões de NTN-C hoje e amanhã, mas o governo preferiu não realizá-los devido à volatilidade no mercado causada pelas mudanças na equipe econômica. Segundo técnicos do Tesouro, existia o risco de investidores exigirem do governo taxas elevadas.

Na última terça-feira, o governo já havia cancelado leilões de LTNs e NTN-Fs devido ao nervosismo do mercado. Anteontem, dia da demissão de Antonio Palocci, o Tesouro chegou a fazer um leilão de resgate de LTNs e LFTs, mas acabou não fazendo nenhuma recompra, porque o mercado propôs preços altos.

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