Título: PAULO BERNARDO DIZ HOJE SE FICA OU SAI
Autor: Regina Alvarez, Geralda Doca e Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 30/03/2006, Economia, p. 27

Ministro, sem trânsito com Mantega, deve permanecer a pedido de Lula

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, decide hoje em reunião com o presidente Lula se permanece no cargo. Ele está desconfortável e gostaria de deixar o ministério para concorrer a uma vaga de deputado federal pelo Paraná nas eleições de outubro, mas pode ceder aos apelos de Lula, que quer a sua permanência no governo. A saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda reforçou o seu desejo de deixar o Planejamento, porque Paulo Bernardo não se considera afinado com Guido Mantega.

¿ Não depende só de mim, mas principalmente do presidente da República ¿ disse o ministro.

O clima entre Paulo Bernardo e Mantega é de constrangimento. Ao longo de 2005, eles estiveram em campos opostos na discussão de um ajuste fiscal de longo prazo proposto pelo Ministério do Planejamento, que acabou bombardeado pelo então presidente do BNDES. Na primeira entrevista depois da posse, Mantega praticamente sepultou a proposta, que exigiria superávits primários acima de 4,25% do PIB.

Ministro do Planejamento teria conversado com presidente

Durante a sua gestão à frente do Planejamento, Paulo Bernardo colocou-se sempre ao lado do Ministério da Fazenda contra o atendimento de demandas da Casa Civil por aumento de alguns gastos públicos. A avaliação feita por interlocutores do ministro é que essa correlação de forças foi alterada, devido à proximidade de Mantega com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Bernardo estaria se sentindo isolado sem Palocci, o que reforçou a sua disposição de deixar o governo. O ministro chegou a conversar recentemente com Lula sobre sua saída. O presidente teria pedido mais tempo, mas diante da mudança na pasta da Fazenda Lula concluiu que mais alterações no comando da equipe econômica não seriam oportunas neste momento.

Paulo Bernardo é considerado extremamente disciplinado e um pedido de Lula será considerado praticamente uma ordem. Mas o desconforto é visível. Em conversa com jornalistas sobre a reunião anual do BID, em Belo Horizonte, ele foi indagado se assumiria, na segunda-feira, a presidência do ¿board¿ de governadores do BID, posto que cabe ao ministro do Planejamento do Brasil, respondeu de forma lacônica:

¿ Na segunda-feira, assumirá a presidência o ministro do Planejamento. (RA e EO)