Título: MANTEGA DEFENDE NO CMN CORTE MAIOR DE JUROS
Autor: Regina Alvarez, Geralda Doca e Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 30/03/2006, Economia, p. 27

Ministro quer conversar com Meirelles e reduzir TJLP de 9% para 8%. Para o Planejamento, decisão é técnica

BRASÍLIA E BELO HORIZONTE. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defenderá amanhã na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) uma queda mais acentuada da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Se prevalecer sua posição, ela cairá um ponto percentual, de 9% para 8%. Para o mercado já seria um corte acima do que recomendam os parâmetros usados na fixação da taxa. Mantega, que é crítico contumaz dos juros altos, já declarou que a TJLP tem todas as condições de cair para 7%.

Mas ele não deve defender a queda abrupta na reunião, porque sabe que os mercados reagiriam com desconfiança, podendo haver turbulência desnecessária no início da gestão.

O CMN estava marcado para hoje. Mas como Mantega passou quase todo o dia no Rio, ele não se encontrou com o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, adversário ferrenho de variações bruscas da taxa de longo prazo. Uma conversa prévia sobre a TJLP está na agenda, uma vez que Mantega quer marcar posição em relação à gestão anterior e sabe que este é seu primeiro embate com Meirelles.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo ¿ o terceiro integrante do Conselho ¿ reafirmou ontem que a decisão do CMN será rigidamente técnica e consensual. A taxa, disse, cairá na medida do possível pois ¿não se trata de discussão ideológica¿ e é preciso manter as premissas da política econômica, para dar previsibilidade ao mercado. Ele frisou que Mantega agora é o ministro da Fazenda:

¿ É como um jogador do Galo (Atlético-MG) que vai jogar no Flamengo. Certamente, ele vai querer fazer gol contra o Galo, e não contra o Flamengo. O Guido já disse que muda de lugar mas não de opinião, mas não é só questão de opinião acadêmica ou pessoal. Faremos uma discussão sobre impacto, conveniência, momento.

No mercado, a aposta é que a taxa cairá entre 0,5 e um ponto percentual, mas neste caso a queda já sairia dos parâmetros para fixar a taxa. Na decisão sobre a TJLP, são considerados três fatores. Nos cálculos do economista Guilherme Maia, da Consultoria Tendências, os números associados a eles seriam 4,5% de inflação em 12 meses, 2% de juros internacionais e 200 pontos de risco-Brasil. Assim a TJLP cairia só meio ponto:

¿ Se a queda for de um ponto, o risco-Brasil seria de 150 pontos, que está fora das previsões. Se for maior, vai sinalizar mudança de política.

O analista Alexandre Fischer, da GRC Visão, alerta que uma queda maior poderá causar alta do câmbio e queda na bolsa.

(*) Enviada especial