Título: BATE-BOCA É COMUM NO PRIMEIRO ESCALÃO
Autor: Flávia Oliveira e Monica Tavares
Fonte: O Globo, 30/03/2006, Economia, p. 29

Rodrigues chamou Mantega de `vagabundo¿; Dilma classificou ajuste fiscal de `rudimentar¿

RIO e BRASÍLIA. Em três anos de governo, o Ministério do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se envolveu em um punhado de bate-bocas. Um dos mais comentados foi o que opôs o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ao agora titular da Fazenda, Guido Mantega. Em março de 2004, Mantega ainda comandava o Planejamento, quando Rodrigues ¿ irritado com a falta de solução para uma greve de fiscais que causara prejuízo de R$500 milhões em produtos que deixaram de ser exportados ¿ chamou o colega de ¿vagabundo¿, numa reunião com parlamentares.

No fim do ano passado, foi a vez de a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, numa entrevista, classificar de ¿rudimentar¿ a proposta de ajuste fiscal de longo elaborada pela equipe econômica. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reagiu. Antonio Palocci, então o todo-poderoso da Fazenda, chegou a pedir demissão. No episódio, o presidente Lula foi obrigado a intervir: primeiro, disse que o debate dentro do governo era natural; depois determinou o fim das divergências públicas entre ministros.

O Código de Conduta da Alta Administração Federal, que fixa regras de comportamento proíbe divergências públicas entre autoridades e também que uma autoridade opine publicamente sobre a honorabilidade e o desempenho funcional de um colega. O código também vale para os ministros de Estado.

A Comissão de Ética Pública recomenda ainda que as altas autoridades não opinem sobre temas que poderão vir a tratar, sendo individualmente ou em colegiado. Os ministros da Cultura, Gilberto Gil, e das Comunicações, Hélio Costa, participam da comissão interna do governo que trata de TV Digital.

O desentendimento de ontem poderia ser enquadrado nos dois casos. Mas a comissão, subordinada ao presidente da República, só pode se pronunciar quando provocada ou se o tema for levantado por um de seus integrantes. Geralmente, cabe ao ofendido entrar com um pedido de explicação. A próxima reunião da comissão será em 24 de abril.(Flávia Oliveira e Cristiane Jungblut)