Título: Hamas assume governo e EUA cortam relações
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Fonte: O Globo, 30/03/2006, O Mundo, p. 31

Novo premier palestino diz que Abbas poderá buscar negociação com Israel e promete colaborar com ele

CIDADE DE GAZA. O grupo radical Hamas assumiu ontem o governo palestino e imediatamente os EUA ordenaram a seus diplomatas e outros funcionários que cortassem os contatos com ministros palestinos. Também o Canadá interrompeu contatos e suspendeu a assistência aos palestinos.

¿ Não teremos contato com membros do Hamas, não importa que título tenham ¿ disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Sean McCormack, referindo-se ao grupo comprometido com a destruição de Israel e que os EUA consideram terrorista.

Embora fosse prevista, a medida dos EUA intensificou o temor de que um corte na ajuda assistencial de Washington crie uma crise humanitária sem precedentes nos territórios palestinos. O governo de George W. Bush tem dito que continuará ajudando os palestinos por meio de terceiros, como a ONU, mas as novas diretrizes limitarão uma série de programas, inclusive de coordenação de segurança. Só serão permitidos contatos com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, seus assessores e deputados que não sejam do Hamas.

Depois da posse de seu Gabinete, o novo primeiro-ministro palestino, Ismail Haniyeh, prometeu ¿coordenação e cooperação¿ com Abbas, cujo partido, Fatah, recusou-se a formar um governo de coalizão, assim como outros grupos políticos.

Nenhum membro do Gabinete participou de governo antes

Perguntado se Abbas poderia buscar uma retomada das negociações de paz com Israel, Haniyeh respondeu:

¿ Como presidente eleito, ele pode se mover politicamente na direção que quiser. Para nós não é problema algum.

A ministra do Exterior israelense, Tzipi Livni, já declarou, porém, que Abbas é irrelevante.

O presidente da ANP pediu ontem ao futuro governo israelense que trabalhe por uma ¿paz negociada¿, acrescentando que qualquer medida unilateral ¿não trará paz¿.

O novo Gabinete palestino tem 25 membros, incluindo Haniyeh. Nenhum participou de um governo antes e os ministérios são repletos de funcionários leais à Fatah.