Título: FRANÇA: SINDICATOS MANTÊM PRESSÃO
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 30/03/2006, O Mundo, p. 32

Greve e protestos são marcados. Conselho Constitucional avaliará polêmico contrato para jovens

PARIS. Os sindicatos, embalados pelo sucesso das manifestações de anteontem na França, resolveram desafiar o governo mais uma vez: convocaram para terça-feira próxima nova greve de um dia e outra jornada de protestos em todo o país, até que o primeiro-ministro Dominique de Villepin suspenda o novo contrato de emprego para jovens que facilita a demissão. A França assistiu terça-feira a uma das maiores manifestações dos últimos anos, que levou às ruas mais de um milhão de pessoas.

Mas Villepin ¿ que joga seu futuro político nesta crise, já que sonha em ser escolhido candidato da direita às eleições presidenciais de 2007 ¿ não apenas insiste em manter o contrato, como endureceu ontem sua posição. O premier ordenou aos diretores das escolas públicas que punam os estudantes que estão fazendo barricadas e impedindo o acesso às escolas.

Como ninguém ¿ governo, sindicatos e estudantes ¿ quer perder esta briga, a solução talvez se encontre no Conselho Constitucional, cujos nove membros vão decidir hoje se o novo contrato de emprego para jovens viola ou não a legislação internacional trabalhista. Se o contrato for considerado inconstitucional, isso daria ao presidente Jacques Chirac a chance de enviar o contrato de volta ao Parlamento, para revisão.

¿ Espero que declarem inconstitucional o CPE (Contrato de Primeiro Emprego). Seria uma derrota para o governo, mas lhe daria também uma saída honrosa da crise ¿ comentou Alix Loubeyre, 19 anos, estudante de Direito da Sorbonne.

O novo contrato permite a empresas de mais de 20 funcionários contratar jovens de menos de 26 anos sem os pesados encargos sociais. A controvérsia está no fato de o CPE permitir às empresas demitirem durante os primeiros dois anos sem justificativa ou compensação. Sindicatos e estudantes querem a retirada da lei. Mas Villepin só aceita fazer modificações como diminuir o tempo de demissão sem compensação.

Proposta de lei divide até partido governista

Cresce, entretanto, a pressão contra a intransigência de Villepin. No UMP, partido do governo, há um claro racha, com vários deputados se aliando à posição mais moderada do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, que também disputa a candidatura da direita à Presidência. Sarkozy é hoje o político de direita mais popular da França. Mesmo fazendo parte do governo, é o maior rival do presidente Jacques Chirac e do premier Villepin. Sarkozy é favorável ao contrato de emprego para jovens, mas defende a sua suspensão, para permitir uma negociação com sindicatos e estudantes.

¿ O governo vai ter de negociar. Os sindicatos conseguiram demonstrar sua força ¿ disse o ministro do Interior.

Enquanto isso, todas as partes estão endurecendo suas posições. O dirigente estudantil Bruno Julliard anunciou que os jovens planejam diversificar sua estratégia de luta, com bloqueios em aeroportos e estações de trem.

Chirac deverá falar à nação nos próximos dias sobre os aspectos mais polêmicos do novo contrato, segundo anunciou a Presidência. Ele cancelou uma viagem pelo país para ficar em Paris, acompanhando a crise.