Título: Definições e surpresas
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 31/03/2006, O País, p. 2

Até amanhã, com o fim do prazo de desincompatibilização para candidatos, fortes movimentos político-eleitorais darão contorno mais nítido ao quadro eleitoral deste ano. O lance de mais impacto na disputa nacional será a saída José Serra da prefeitura para disputar o governo do estado. Um dos mais surpreendentes pode acontecer no Ceará: uma aliança entre o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, e o ministro Ciro Gomes, em torno da candidatura do irmão deste, Cid Gomes, do PSB.

No Rio, a decisão da governadora Rosinha de permanecer no cargo parece ter tido o objetivo de afastar dúvidas sobre a candidatura de Garotinho. Agora, ele só tem dois destinos possíveis. Ser candidato a presidente ou a vice, postos de jurisdição nacional. Caso o PMDB venha mesmo a descartar a candidatura própria até junho - o que estará mais de acordo com a natureza fracionária do partido e com seus interesses regionais - os Garotinho poderão mesmo apoiar o candidato tucano Geraldo Alckmin. Garotinho tem conversado com Fernando Henrique e com o próprio Alckmin mas a hipótese de vir a ser vice na chapa tucana esbarra na realidade política. O mesmo grupo do PMDB que deve inviabilizar a candidatura própria para dispor de total liberdade de coligação nos estados barraria uma coligação com o PSDB, que amarraria o partido nacionalmente. Ainda mais em troca da vice, já prometida ao PFL.

Embora a maior parte dos caciques peemedebistas deva apoiar informalmente a recandidatura do presidente Lula, alianças com o PSDB têm progredido. Devem acontecer no Paraná, em apoio ao governador peemedebista Roberto Requião, e em Santa Catarina, juntamente com o PFL, em apoio ao governador Luiz Henrique, também do PMDB. Em São Paulo, o PSDB tenta atrair Quércia para a chapa de Serra oferecendo-lhe a vaga de senador. Mas com a verticalização isso também só seria possível em aliança branca, pelo motivo já apontado: o PMDB não tem consenso interno para lançar candidato próprio nem para aprovar uma aliança nacional.

A reviravolta que pode acontecer no Ceará seria um artefato político dos mais inusitados, embora Tasso e Ciro sejam ligados por uma amizade que tem resistido à bifurcação de seus caminhos no plano nacional. Estão apenas conversando, ressalva o ministro que deixará o cargo hoje. Mas as conversas são promissoras, garante uma boa fonte tucana. Uma tal aliança exigiria que o governador tucano Lúcio Alcântara desistisse de disputar a reeleição. Ontem ele esteve em Brasília para uma conversa com Tasso. Seu vice, o tucano Maia Júnior, seria o vice de Cid. O candidato ao Senado poderia ser o pefelista Moroni Torgan. Este palanque, dizem os tucanos, seria de Alckmin, jamais de Lula, que Ciro poderia apoiar separadamente, como candidato a deputado federal. Complicado.

- Tem gente espalhando isso, mas eu e Tasso estamos apenas começando a examinar as imensas diferenças que nos separam. Para começar, eu sou Lula, ele é Alckmin.

Mas se a conversa evoluir para uma aliança, ela prejudica Lula. Tudo começou porque nos últimos dias o PT cearense começou a fazer o de sempre, criar dificuldades para uma aliança em apoio a candidato majoritário de outro partido. No caso, Cid Gomes, o irmão de Ciro que disputará o governo pelo PSB. A prefeita Luizianne defende uma candidatura própria que parece fadada ao isolamento. No máximo, terá o apoio do PCdoB, apesar do que houve na eleição de 2004, quando o PT local ignorou o acordo nacional para apoiar o comunista Inácio Arruda, lançando Luizianne.

Um outro movimento interessante, o do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, do PMDB. Deixa hoje o governo para ser candidato ao Senado e já declarou apoio a Alckmin. Apoiando um candidato do PFL a governador com um tucano de vice, deixará a oposição local isolada. O PT quer ter candidato próprio mas o ministro Agnelo, do aliado PCdoB, deixa o cargo hoje com o mesmo objetivo. Tudo isso sugere que Lula pode perder o apoio oficial do PSB e do PCdoB.

Com a escolha de Tarso Genro para a Coordenação Política, o Ministério da Defesa pode ficar com Waldir Pires, da CGU. As outras serão substituições burocráticas.