Título: Mais oito baixas
Autor: Cristiane Jungblut e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 31/03/2006, O País, p. 3

Ministros de Lula saem para disputar eleições; general da carteirada pode ter cargo interinamente

Na mesma semana em que demitiu Antonio Palocci, seu principal colaborador e homem forte na economia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perde mais oito ministros políticos que vão se candidatar nas eleições de outubro. Com isso, Lula parte para a campanha da reeleição com um Ministério técnico. A única escolha política de peso foi a do petista gaúcho Tarso Genro, que vai substituir Jaques Wagner no Ministério das Relações Institucionais, que faz o papel de articulador político.

Com a ida de Tarso para o Planalto, o presidente ficou sem solução imediata para o Ministério da Defesa, no lugar do vice-presidente José Alencar. Por isso, ficaria no cargo interinamente o comandante do Exército, Francisco de Albuquerque, que recentemente deu uma carteirada para embarcar num vôo da TAM que iniciava procedimento de decolagem rumo a Brasília.

Segundo assessoria da vice-presidência, o ministro da Defesa é sempre substituído interinamente por um dos comandantes das três Forças, seguindo um esquema de rodízio. Da última vez que Alencar se ausentou do país, foi substituído pelo comandante da Marinha. Agora seria a vez do Exército. Segundo informações não oficiais do Planalto, a interinidade de Albuquerque duraria no máximo dois ou três dias. Mas ele pode nem assumir caso o ministro da Controladoria Geral da União, Waldir Pires, seja convidado e aceite o cargo. Waldir foi chamado por Lula para audiência às 12h de hoje.

Nas negociações de ontem, quando passou o dia em conversas com os demissionários, Lula chegou a pedir a Jaques Wagner que permanecesse no cargo, mas ambos chegaram à conclusão que o melhor para o PT e até para a própria campanha de Lula é o baiano ser candidato ao governo da Bahia.

Além de Jaques Wagner e da saída de Alencar da Defesa, estão deixando o governo os ministros Ciro Gomes (Integração Nacional), Alfredo Nascimento (Transportes), Saraiva Felipe (Saúde), Agnelo Queiroz (Esportes), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e José Fritsch (Pesca). A demissão dos oito ministros será publicada hoje no Diário Oficial da União. A maioria dos demissionários será substituída por técnicos, na maioria dos casos pelo secretário-executivo.

Tarso promete estabilidade

Logo depois da audiência com Lula, o petista Tarso Genro, já falando como coordenador político, disse que um ano eleitoral é sempre tenso e que o objetivo dele e de todos é garantir um governo estável até dezembro. Mas já adiantou que não deverá terá forte atuação na articulação política - área na qual os próprios petistas dizem que Tarso não tem muita habilidade.

- O presidente Lula me pediu que substituísse Jaques Wagner com a consciência de que o governo tem uma enorme responsabilidade política neste ano, que é eleitoral, para manter a estabilidade do governo e das instituições. Vou fazer um trabalho mais discreto de articulação política, sem qualquer movimento instabilizador nas relações do governo com a sociedade, com seus aliados e com a própria oposição - disse Tarso.

Ele ainda defendeu amplas alianças como forma de garantir uma base sólida para o governo no Parlamento. Tarso já foi ministro da Educação e chefe do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). No ano passado, Tarso deixou o governo no auge da crise envolvendo o PT e autoridades no escândalo do mensalão para presidir o partido. Ontem à noite, o presidente Lula teve uma conversa definitiva com Tarso. Seu nome encontrava resistência no Palácio do Planalto. Ele prometeu conversar com todos os parlamentares afirmando desconhecer a expressão "baixo clero".