Título: PEGANDO CARONA NO DÓLAR
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 31/03/2006, Economia, p. 21

PIB atingiu R$1,9 trilhão em 2005 e Brasil volta ao 10º lugar no mundo, diz consultoria

O Produto Interno Bruto (conjunto de riquezas produzidas pelo país) chegou a R$1,9 trilhão em 2005, levando a renda per capita (por habitante) para R$10.520, um aumento real de apenas 0,8%, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Devido quase exclusivamente à forte valorização do real frente à moeda americana, a conversão do valor do PIB pelo dólar médio do ano elevou o resultado para US$797 bilhões. Com isso, o Brasil passou de 12º lugar para 10ª maior economia mundial, superando a da Austrália e a do México, calcula a GRC Visão, do Grupo Global Invest.

- Maiores juros nominais e reais do mundo, crise política, alta dívida pública e problemas estruturais mantiveram o Brasil na contramão do mundo. Somente graças à alta valorização do real frente ao dólar o país galgou a 10ª posição num ranking em que já ocupou o 8º lugar- observou o economista da GRC Visão, Jason Vieira.

Renda por habitante quase estagnada

O PIB brasileiro só cresceu 2,3% reais (descontada a inflação) em 2005, conforme o IBGE já havia anunciado. Mas a expansão média das principais economias do mundo, no ano passado, foi estimada em 4,3%; e a dos países emergentes, em 6,4%.

Com o crescimento de 1,4% da população brasileira, estimada pelo IBGE em 184,2 milhões de habitantes em 2005, o PIB per capita em reais ficou praticamente estagnado. Mas em moeda americana cresceu quase 30%, passando de US$3.331 em 2004 para US$4.326 em 2005, segundo os cálculos da GRC Visão.

- O resultado em dólar é artificial. Mas, por outro lado, o câmbio puxou para baixo a inflação interna. Conteve especialmente os preços dos alimentos, aumentando a renda real da população - acrescentou Vieira.

A taxa de investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil (formação bruta de capital fixo) surpreendeu os especialistas como Guilherme Maia, da Tendências Consultoria: passou de 19,6% em 2004 para 19,9% do PIB em 2005, o melhor resultado desde 1997. Mas esta ligeira elevação só ocorreu devido ao efeito preço, informou a economista Maria Laura Muanis, do Departamento de Contas Nacionais do IBGE. Os investimentos ficaram em média 9,6% mais caros, frente a uma alta média de 7,2% dos preços do PIB de 2005.

- Se não fosse o efeito preço, a taxa de investimento teria caído - explicou Muanis.

Maia calcula que se o preço dos investimentos tivesse subido na média de 7,2% do PIB, a taxa teria ficado em 19,5% do PIB - abaixo de 2004.

Para 2006, a expectativa é de investimento maior. A Tendências prevê que a economia crescerá 3,3%, com uma taxa de investimento equivalente a 20,4% do PIB. Sua projeção está em linha com a do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): expansão econômica de 3,4% com uma taxa de investimento de 20,36%. Entretanto, para o país elevar e sustentar um crescimento mais acelerado, de 4% a 4,5%, precisaria de uma taxa de investimento acima de 23% do PIB, acrescenta o economista Eduardo Velho, da Mandarim Gestão de Ativos.

As altas taxas de juros vigentes em 2005 afetaram mais os investimentos que o consumo. Os gastos das famílias passaram de 55,2,% do PIB para 55,5%. Os do governo, de 18,8% para 19,5%. Isto causou a queda da taxa de poupança, de 23,2% em 2004 para 22,2% em 2005. Já a participação do saldo comercial caiu de 18% para 16,8%, em decorrência da valorização cambial.

Entre os componentes do PIB, a agropecuária teve o pior desempenho. Produziu R$145,8 bilhões, perdendo 1,7 ponto percentual de participação no PIB: saiu de 10,1% em 2004 para 8,4% em 2005. A indústria, com R$690,6 bilhões, e os serviços (R$985,3 bilhões) ganharam participação, ficando respectivamente com 40% e 57%. Já os impostos sobre os produtos chegaram a R$209,1 bilhões.

O ano de 2005 também marcou o forte aumento do envio de renda para fora do país, principalmente lucros e dividendos: entraram R$8,3 bilhões e saíram R$ 70,4 bilhões, um saldo negativo de R$62,1 bilhões.

- Com o tempo, o investimento direto estrangeiro resulta no envio de lucros para fora do país - explicou a economista Claudia Dionisio, da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.