Título: MERCADO VOLTA A NÍVEIS PRÉ-MANTEGA
Autor: Patrícia Duarte
Fonte: O Globo, 31/03/2006, Economia, p. 22

Risco-Brasil cai 0,43% e Bolsa sobe 0,76%. Dólar fecha a R$2,188

Depois de três dias consecutivos de especulação por causa da saída de Antonio Palocci e escolha de Guido Mantega para o Ministério da Fazenda, além da saída de membros da equipe econômica, os principais indicadores financeiros brasileiros voltaram aos patamares anteriores às mudanças. O risco-Brasil, indicador da confiança dos investidores estrangeiros no país, recuou 0,43%, para 232 pontos centesimais, mesmo nível da última sexta-feira, quando a demissão de Palocci era ainda apenas mais um boato de mercado. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 0,76%, encerrando o pregão aos 37.776 pontos, bem acima dos 37.577 pontos da sexta-feira.

O dólar caiu desde o início dos negócios e acabou fechando próximo à mínima do dia (R$2,184), em queda de 1,17%, cotado a R$2,188. Apesar das perdas, a moeda ainda não chegou aos R$2,154 da última sexta-feira. Analistas explicam que o mercado de câmbio foi o que mais sentiu os efeitos da crise recente, com especulações sobre uma política de corte de juros mais agressiva. Taxas mais baixas estimulam a migração para o câmbio, o que faz a cotação subir. Por isso, o mercado teve um desempenho bem mais negativo que os demais.

Juros caem fortemente após relatório de inflação

O Banco Central (BC) completou ontem quatro dias de ausência no mercado de câmbio à vista e há três semanas não faz leilões de swap cambial reverso, na prática, uma compra de dólares no mercado futuro. O jejum do BC permitiu que a moeda americana fechasse abaixo dos R$2,20.

No mercado de juros, as taxas reagiram fortemente à queda das projeções do BC para a inflação: o relatório trimestral da instituição apontou que o IPCA deve ficar em 3,7% este ano, ante os 3,8% estimados anteriormente. Com isso, as projeções dos contratos negociados no mercado futuro, com vencimento em janeiro do ano que vem, caíram de 15,06% para 14,99% ao ano. Já nos contratos com resgate em janeiro de 2008, recuaram de 14,80% para 14,67% ao ano.

A esperada nomeação dos novos membros da Fazenda pelo ministro Guido Mantega chegou próximo ao fechamento dos mercados domésticos, então, tiveram pouco efeito sobre os indicadores. Além da cautela em relação às mudanças no ministério, investidores continuavam ontem atentos ao indicadores da economia americana, que podem dar pistas sobre o ritmo dos juros nos EUA. O Departamento de Comércio divulgou que a economia americana cresceu 1,7% ao ano no último trimestre de 2005. Foi o pior resultado em quase três anos, o que sugere que os juros não devem subir de maneira tão acelerada.

Mas um indicador de inflação monitorado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) enviou sinal contraditório ao mercado. Os preços subiram 2,4% ao ano no último trimestre do ano passado, superando os 2,1% antes estimados para o período. O dado trouxe pessimismo e aumentou as apostas de que o Fed continuará elevando os juros. Com isso, o índice Dow Jones caiu 0,57% e o S&P 500, 0,34%.

INCLUI QAUDRO: O EFEITO DAS MUDANÇAS NO MERCADO