Título: BC INDICA MANUTENÇÃO DE CORTES DE JUROS E PREVISÃO DE CRESCIMENTO
Autor: Patrícia Duarte
Fonte: O Globo, 31/03/2006, Economia, p. 22

Relatório trimestral mostra que taxa básica deve continuar a baixar 0,75 ponto

BRASÍLIA. A economia brasileira continua reunindo as condições para que a taxa básica de juros Selic siga em trajetória de queda, como nos últimos sete meses. O Relatório Trimestral de Inflação divulgado ontem pelo Banco Central (BC) afirma que o comportamento dos preços está sob controle e que a inflação chegará a dezembro acumulada em 4,5% pelo IPCA, portanto, dentro da meta do governo. Neste cenário, o crescimento de 4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas geradas no país) este ano, projeção mantida pelo BC, não deve gerar pressões inflacionárias.

O BC, porém, voltou a indicar que os cortes de juros serão mantidos na mesma magnitude - 0,75 ponto percentual. A diretoria da instituição reafirmou que é preciso ter cautela na condução da política monetária, por não conseguir mensurar de fato os efeitos nos cortes na Selic dos últimos meses, ou seja, se os juros estão na medida para estimular consumo e investimento sem gerar desequilíbrios.

- A avaliação é que os dados confirmam a trajetória de crescimento sustentável a médio prazo - afirmou o diretor de política econômica do banco, Afonso Bevilaqua.

A recuperação da massa salarial, o maior consumo das famílias e a recuperação do emprego nos últimos meses foram alguns pontos destacados por Bevilaqua para explicar a estimativa de expansão da economia em 2006 acima do ano passado, que ficou em 2,3%. Os cálculos são menos otimistas do que os do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que fala em expansão entre 4% e 5%. Bevilaqua disse que os números são só projeções, que podem mudar com dados novos.

O relatório de ontem traz também indicações de que os maiores gastos públicos, concentrados no primeiro semestre por conta da lei eleitoral, contribuirão para o aquecimento da economia.

A tranqüilidade do BC em relação à inflação deve-se à estimativa de inflação do banco usando os indicadores da atual conjuntura. Se a Selic ficasse em 16,5% ao ano (atual patamar) e o dólar mantivesse cotação de R$2,15, o IPCA fecharia 2005 a 3,7%, portanto abaixo da meta. É esta folga que permite novas reduções da Selic.

- Vamos cumprir a meta - afirmou Bevilaqua.

Reforço nas reservas internacionais vai continuar

Focos de incerteza são poucos, segundo o BC, e ainda não acendem a luz vermelha. Um deles é o cenário internacional com disposição um pouco menor de investir nas nações emergentes, já que os países desenvolvidos estão elevando seus juros.

Especialistas mantêm as opiniões de que o Comitê de Política Monetária (Copom), em sua reunião de 18 e 19 de abril, não surpreenderá:

- A tendência é de queda, mas sem acelerar - afirmou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

Bevilaqua afirmou que o BC continuará reforçando as reservas internacionais, com a possibilidade de manutenção das compras de dólares no mercado. Ele defendeu que, apesar de estarem em níveis considerados bons (cerca de US$60 bilhões), o colchão pode crescer. Até o dia 28 de março, o BC já havia comprado no mercado US$3,074 bilhões no mês, acumulando no ano US$7,894 bilhões.