Título: FURLAN A MANTEGA: HORA DE 'SE DESPIR DA EMOÇÃO'
Autor: Patrícia Duarte/Geralda Doca
Fonte: O Globo, 31/03/2006, Economia, p. 23

Ministro diz que colega terá de ser pragmático na Fazenda, para atender ao governo e dar conforto ao mercado

BRASÍLIA. Parceiro de Guido Mantega nas críticas às altas taxas de juros e na pressão por estímulos ao crescimento, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse ontem já esperar que o colega, como ministro da Fazenda e presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN), seja mais cauteloso nas suas posições. Isso significa "se despir da emoção" dos discursos anteriores, nos quais ele defendia com veemência a queda acentuada da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Usando o futebol como analogia, Furlan afirmou que Mantega agora vai trocar a camisa de atacante (10) pela de goleiro (1).

- Tenho certeza de que Guido está preparado, fazendo uma reflexão para mudar o número de sua camisa para a de número 1 - disse Furlan.

A Fazenda, segundo Furlan, precisa ter dois cuidados: não tomar gol dos adversários e, de vez em quando, cuidar para não levar gol contra. Já o papel do Desenvolvimento é persistir no ataque. E o ministro garantiu que continuará marcando posição:

- (Mantega) vai precisar se despir da emoção anterior e se colocar pragmaticamente como árbitro de uma decisão estratégica, que dê conforto às expectativas de mercado, mas que seja coerente com uma política econômica geral do governo.

Hoje, ao meio-dia, começa a reunião do CMN. Espera-se que Mantega defenda uma queda de, no máximo, um ponto percentual na TJLP, hoje em 9% ao ano. Será o primeiro encontro do novo ministro da Fazenda com o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Os dois e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, formam a trinca que decide os rumos da taxa de longo prazo.

Bevilaqua, do BC: política monetária é decisão de Lula

Os três teriam ontem um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para debater o rumo dos juros usados no financiamento ao setor produtivo e na área de saneamento. Mas devido à agenda apertada de Mantega e às mudanças no ministério, o encontro foi cancelado.

A equipe econômica continua se esforçando para mostrar que não há divergências entre Fazenda e BC. Apontado muitas vezes por Mantega como a influência conservadora do BC, o diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, disse ter certeza de que não haverá mudanças nos rumos da política monetária, porque as diretrizes foram decididas por Lula.

Bevilaqua argumentou que o desempenho da economia, que cresceu 2,3% em 2005, não depende apenas dos juros e do BC, como acusou Mantega há uma semana. Ele ressaltou que inflação sob controle é condição essencial para o crescimento sustentável.