Título: `EQUÍVOCOS FAZEM PARTE DA HISTÓRIA¿
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 01/04/2006, O País, p. 3

Pires diz que função das Forças é garantir a paz e a soberania

BRASÍLIA. Em sua primeira entrevista depois de ser indicado para o Ministério da Defesa, Waldir Pires evitou polemizar com o comandante do Exército, general Francisco de Albuquerque. Mas no mesmo dia em que o general celebrou a importância histórica do golpe militar, Pires disse que aquela ação dos militares foi um equívoco histórico.

Para ele, a sociedade e as Forças Armadas deram um passo importante de aproximação desde 1964.

¿ Algumas coisas nunca mais! Equívocos fazem parte da História. O Ministério da Defesa deu um passo importante de aproximação da sociedade civil e das Forças Armadas. Creio nas coincidências da História, mas penso que nunca mais teremos problemas dessa natureza. A função das Forças Armadas tem que ser garantir a paz e a soberania ¿ afirmou o novo ministro, destacando que sua grande luta na pasta será colaborar para a consolidação da democracia.

Mas ao falar da nota do Exército, evitou polemizar com o general.

¿ Não tenho nada a contestar de quem porventura interprete os fatos dessa forma. Eu respeito a opinião de cada um. O que temos que garantir com as Forças Armadas é a soberania ¿ disse Waldir Pires.

Perguntado se iria demitir Albuquerque do comando do Exército, o novo ministro disse que não é de sua competência demitir ou nomear os comandantes das Forças Armadas:

¿ Não é competência do ministro da Defesa, é do presidente da República. O Ministério da Defesa tem a função apenas de coordenar.

¿O que não muda são os valores¿

Waldir Pires afirmou ainda que a sociedade brasileira amadureceu desde o golpe e se disse convicto de que não sofrerá resistências dos militares:

¿ A civilização se altera, muda, a conscientização popular também, o que não muda são os valores.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu nomear Waldir Pires para a Defesa depois de concluir que o político baiano causaria o menor grau de atrito com o comando das Forças Armadas.

O golpe militar obrigou o novo chefe dos militares a passar seis anos no exílio no Uruguai e na França entre 64 e 70. Um dos mais leais colaboradores de João Goulart, Waldir Pires, hoje com 79 anos, era consultor-geral da República quando os militares derrubaram Jango. Confiante de que manterá bom relacionamento com as Forças Armadas, Pires disse que ¿as mágoas não ajudam, não contribuem para a consolidação da democracia¿:

¿ Estou indo pela consolidação da democracia brasileira. É um ministério que tem um trabalho de articulação com a sociedade e tem uma história de manutenção da soberania. Creio no relacionamento harmônico.

Sobre a carteirada dada por Albuquerque para embarcar num avião da TAM , o ministro disse que o general afirma não ter usado do cargo:

¿ Há diversas informações de que ele não determinou isso. Não sei o que existe na Defesa, mas o comandante negou que tivesse feito isso.

Desde o início do governo, Waldir Pires era ministro da Controladoria Geral da União (CGU), cargo que será ocupado interinamente pelo secretário-executivo Jorge Hage.