Título: Exército orgulha-se do passado¿
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 01/04/2006, O País, p. 3

Comandante exalta regime militar no dia em que Waldir Pires, ex-exilado, assume Defesa

No dia em que o golpe militar de 1964 completou 42 anos, o ex-exilado político Waldir Pires foi nomeado ministro da Defesa e o comandante do Exército, general Francisco de Albuquerque, foi o centro de nova polêmica ao celebrar o 31 de março com uma nota que exalta a ditadura. Albuquerque, desgastado com o episódio da carteirada para embarcar num vôo da TAM, afirmou que houve um incontestável apoio popular ao regime e que o Exército se orgulha desse passado. O texto, que é a Ordem do Dia, foi lido em todas as unidades militares.

¿O 31 de Março insere-se na História da Pátria. (...) E é sob o prisma dos valores imutáveis da nossa Força e da dinâmica conjuntural que o entendemos. É memória, dignificado à época pelo incontestável apoio popular¿, afirma trecho da nota.

Em seis parágrafos da nota, o general começa a frase referindo-se à Força como ¿Esse Exército, o seu Exército¿. O trecho mais polêmico é o que o comandante fala em orgulho do passado. ¿Esse Exército, o seu Exército, orgulha-se do passado, porque nele os valores e postulados da instituição, que se confundem com os da própria Nação brasileira, nasceram e se confundiram¿. Em 2004, o mesmo general provocara polêmica ao defender o regime, sendo obrigado a refazer o texto e provocando a demissão do então ministro da Defesa, José Viegas.

General quase vira ministro da Defesa

O general Albuquerque estava cotado para assumir interinamente o Ministério da Defesa, por causa do rodízio dos três comandantes militares na pasta. Mas o presidente Lula nomeou ontem o substituto do vice-presidente José Alencar na pasta, Waldir Pires.

O presidente da OAB, Roberto Busatto, criticou a nota:

¿ Ao contrário do general Albuquerque, a OAB não tem nada a comemorar neste 31 de março e reitera sua permanente luta pela preservação do estado democrático de direito, das liberdades civis e sos direitos e garantias individuais que, lamentavelmente, não foram respeitadas pelo regime militar ¿ disse Busatto.

Suzana Lisboa, ex-representante de vítimas na Comissão de Desaparecidos Políticos, pediu a demissão imediata do general Albuquerque.

¿ Esse ministro já deveria ter sido demitido por passagens anteriores. Essa deve ser definitiva. Ele não pode ser comandante de um Exército de um país que pretende ser democrático ¿ disse ela.