Título: Governo e oposição brigam por mudanças em relatório
Autor: Maria Lima, Bernardo de la Peña e Adriana Vasconce
Fonte: O Globo, 01/04/2006, O País, p. 11

Longe do consenso, texto final pode não ser aprovado

BRASÍLIA. Os movimentos do governo e da oposição ontem acirraram os ânimos e dificultaram ainda mais a negociação para a aprovação do relatório final da CPI dos Correios. Com isso, aumentou a possibilidade de a comissão ficar sem um texto aprovado. Em nota, a bancada do PT na CPI divulgou os principais pontos que serão incluídos no substitutivo que prepara para tentar derrubar o texto do relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) na votação da semana que vem. Quase ao mesmo tempo, o novo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, e seu antecessor, Jaques Wagner, defenderam a decisão dos petistas.

Do outro lado, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) apresentou uma emenda ao relatório oficial para incluir o presidente Lula no rol dos indiciados. ¿Inevitável debruçar-se, ao fim dos trabalhos desta CPI, sobre os elementos que comprovam o conhecimento do presidente Lula quanto à prática do mensalão e a ausência de atitudes para coibi-lo. Vai-se além: ficou clara a participação do presidente, imiscuindo-se na imoralidade política perpetrada por seu governo, sob suas ordens e comando¿, diz a emenda.

Paes diz que oposição aceita negociar tecnicamente

Citado no relatório de Serraglio em razão de sua filha trabalhar na GDK, empresa que tem um contrato no qual o Tribunal de Contas da União encontrou irregularidades com a Petrobras e que teria feito doações para sua campanha ao governo da Bahia em 2002, Wagner admitiu a possibilidade de acionar a Justiça para se defender:

¿ Uma coisa é o fato, outra é a ilação. Como foi feita uma ilação sobre mim e minha família, posso entrar com um processo por calúnia.

Para Tarso, o PT age de maneira sóbria e seu objetivo não é impedir a votação do relatório final da CPI dos Correios:

¿ Não vejo na atitude do PT radicalização. O PT não está fazendo nada para abortar o relatório final, mas para agregar mais elementos para serem enviados ao Ministério Público. O partido tem esse direito.

O PT quer alterar pontos do documento que tratam da existência do mensalão, da vinculação das fraudes nos fundos de pensão com o valerioduto e quer deixar claro que o esquema de corrupção foi inaugurado em Minas Gerais no governo do PSDB, em 1998. Pretende ainda retirar nomes de dirigentes e ex-ministros do governo Lula da lista de indiciamentos por corrupção e incluir outros, como o do banqueiro Daniel Dantas.

Para Eduardo Paes, entendimento está distante

O documento divulgado ontem pelo PT diz que algumas conclusões de Serraglio se baseiam em fatos comprovados pela CPI, outras não têm fundamento. Para o relator-adjunto, Eduardo Paes (PSDB-RJ), o entendimento está distante. Ele diz que apenas dois dos sete pontos apresentados pelo PT são negociáveis: o enquadramento das 122 pessoas que tiveram indiciamento pedido pelo relator e a inclusão do pedido de indiciamento de Dantas, que controlava a Brasil Telecom quando a companhia fez depósitos para Marcos Valério.

¿ Se for uma discussão técnica, podemos colocar nossos advogados para discutir com os deles. Mas o que faltou foi o indiciamento do Lula por caixa dois, com base nos depoimentos do Duda Mendonça e do Delúbio Soares, que pagou o Duda com dinheiro de caixa dois ¿ disse Paes, que reagiu às críticas:

¿ Concordo que no caso de Wagner há uma ilação. Só não sabia que ele empregava a filha com seus financiadores de campanha. Respeito os padrões éticos do ministro, diferentes dos meus. Mas, se ele quer processar alguém, deve procurar os técnicos do TCU.

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