Título: `O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO ENCONTRA-SE SITIADO¿
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 01/04/2006, O País, p. 15

Entidades ligadas ao setor cobram providências do ministro da Justiça contra invasões feitas pelos sem-terra

BRASÍLIA. Empresários e entidades do setor de agronegócio e celulose que desenvolvem pesquisas de biotecnologia cobraram ontem do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, providências contra invasões de sem-terra em suas unidades de produção. A iniciativa foi uma resposta à destruição de experimentos da Aracruz Celulose por cerca de duas mil mulheres da Via Campesina, em 8 de março, no Rio Grande do Sul. Os empresários disseram estar apreensivos e indignados com as ações e ameaças do Movimento dos Sem Terra (MST) e outros grupos contra unidades de pesquisa do agronegócio. Eles entregaram carta ao ministro.

¿Empresas vivem sob a sombra do medo¿

¿Infelizmente hoje a nossa sensação é de que o agronegócio brasileiro encontra-se sitiado. Empresas e entidades que integram o setor produtivo vivem sob a sombra do medo e a iminência de um novo ataque, invasão ou ocupação a qualquer momento¿, diz trecho do texto assinado pelos presidentes da Associação Brasileira de Sementes e Mudas, Ywao Miyamoto; da Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal, Carlo Lovatelli; e da Associação Brasileira de Obtentores Vegetais, Ivo Carraro.

A carta alerta para o risco de redução de investimentos:

¿O cenário de instabilidade e de desrespeito ao direito de propriedade atinge em cheio o agronegócio brasileiro, ameaçando mais gravemente a capacidade produtiva nacional. A falta de segurança para dar continuidade às atividades produtivas no campo mina os investimentos, empobrece o país.¿

Por meio de sua assessoria, o ministro reafirmou que os movimentos sociais não estão acima da lei.

¿O governo federal está preocupado e atento à esta questão. Não criminalizamos os movimentos sociais, mas ninguém pode transgredir os limites da lei. E ninguém está acima da lei ¿ disse o ministro, segundo sua assessoria.

Ele afirmou que está em ação um plano preventivo em conjunto com as polícias estaduais, a quem cabe impedir as invasões. A Divisão de Conflitos Agrários da Polícia Federal está mapeando os movimentos de sem-terra para identificar líderes e antecipar-se a futuras depredações de centros de pesquisa.

Segundo os empresários, Bastos disse que o governo condenará publicamente atitudes como as de sem-terra que destruíram o laboratório da Aracruz no Rio Grande do Sul e que invadiram, há 20 dias, propriedade da empresa Syngenta em Santa Tereza do Oeste, no Paraná.

¿ Todos têm o direito de expressar suas opiniões, mas há grupos que vêm burlando a lei. Estão prejudicando empresas que investem no país, gerando riquezas e pagando impostos ¿ disse o presidente no Brasil da multinacional Monsanto, Rick Greubel, que também participou do encontro com Bastos.

Monsanto não reabriu unidade destruída pelo MST

Desde 2001, a Monsanto já teve três unidades invadidas. Numa delas, em Ponta Grossa (PR), as instalações foram destruídas em 2003 e a empresa decidiu não reabrir a unidade.

¿ É uma pena vermos estes movimentos, com os quais até simpatizamos, extrapolarem suas ações. O governo tem que nos dar garantias. A Constituição está aí e o direito à propriedade é sagrado. As empresas pagam imposto, geram empregos ¿ disse Lovatelli.

A carta entregue pelos empresários enfatiza que os movimentos de sem-terra envolvidos nos ataques são conhecidos. O documento cita a Via Campesina Brasil, que é ligada ao MST. ¿Suas ações, próprias de vândalos, destroem em minutos os resultados de pesquisas que levaram dez anos para serem concluídas¿, diz o texto.

O MST foi procurado ontem à tarde, mas nenhum assessor nem coordenador foi localizado para comentar as críticas.