Título: DEU EMPATE NO 1º CMN DE MANTEGA E MEIRELLES
Autor: Patricia Duarte e Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 01/04/2006, Economia, p. 35

TJLP cai 0,85 ponto percentual para 8,15% ao ano. Ministro da Fazenda queria mais; presidente do BC, menos

BRASÍLIA. Terminou empatado o primeiro embate entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) ontem, que durou apenas 20 minutos, ficou decidido que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) será de 8,15% ao ano pelos próximos três meses, com corte de 0,85 ponto percentual. A queda ficou no meio termo. Houve pequena aceleração em relação à decisão de dezembro, quando houve redução de 0,75 ponto percentual, como defendia o BC de Meirelles, mas não chegou ao ponto percentual desejado por Mantega.

A taxa de longo prazo fixada ontem é a menor da história da TJLP, criada pela Medida Provisória 684, de 31 de outubro de 1994. Seu primeiro valor de referência foi 26,1%, fixado em dezembro daquele mesmo ano. A TJLP que vigorou entre janeiro e março deste ano, de 9% ao ano, já era a mais baixa.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, completa o trio de árbitros do CMN. Ele, Meirelles e Mantega costuraram a decisão salomônica numa reunião de quase uma hora, antes do CMN. Havia receio da equipe econômica e do Palácio do Planalto de que qualquer divergência na hora do voto em plenário, por mais que fosse uma discordância técnica, tomasse a proporção de uma guerra entre Meirelles e Mantega.

O temor era motivado pela pública e notória desavença entre os dois em relação ao ritmo de queda e ao patamar ideal dos juros da economia. Foi o que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a reafirmar o status de ministro de Meirelles no dia da posse de Mantega, rompendo a subordinação do BC à Fazenda. Na quinta-feira da semana anterior à sua nomeação, Mantega havia defendido em Brasília que a TJLP poderia perfeitamente cair de 9% para 7% ao ano, dadas as condições de risco-país e inflação em baixa.

O próprio Lula serviria de árbitro da decisão de ontem do CMN, numa reunião que seria anteontem, mas acabou desmarcada. Com a boa vontade demonstrada por Mantega e Meirelles para evitar atritos que estressem os mercados, acabou prevalecendo o entendimento direto entre os dois e Paulo Bernardo.

BC usou inflação e risco-país como critérios, disse Darcy

Mantega já havia baixado o tom na sua primeira entrevista como ministro. Afirmara que não haveria aventuras e que nunca defendera a queda imediata da TJLP para 7% ao ano. Nos bastidores, contudo, mantinha o discurso de que não aceitaria o conservadorismo de um corte de 0,75 ponto percentual.

Depois de tanto esforço, o tom da reunião do CMN foi ameno. Foi o próprio Meirelles quem apresentou a proposta de corte de 0,85 ponto, elaborada pelos técnicos do BC. Com o consentimento dos colegas, o presidente do BC apresentou o voto aos membros do CMN, que acabou sendo aprovado por unanimidade. Ao sair da reunião, Paulo Bernardo confirmou que o clima entre os três ministros estava bom:

¿ O clima só estava ruim porque não havia nem uma bolachinha. Estou morrendo de fome! ¿ brincou.

De acordo com o diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, o corte pouco usual de 0,85 ponto percentual foi escolhido levando-se em consideração a meta de inflação do governo para o ano (4,5% pelo IPCA) e o risco-Brasil, atualmente na casa dos 235 pontos:

¿ O conjunto da obra nos levou a essa redução.