Título: LAMY PEDE ESFORÇO MAIOR DE BRASIL, EUA E UE
Autor: Ronaldo D'Ercole e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 01/04/2006, Economia, p. 38

Diretor-geral da OMC quer redução de tarifas industriais brasileiras para destravar Doha

SÃO PAULO e RIO. O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, reafirmou ontem em reunião com dirigentes empresariais brasileiros que tanto o Brasil ¿ à frente do G-20, que reúne países em desenvolvimento em busca de maior abertura no mercado agrícola ¿ como a União Européia (UE) e os EUA precisam avançar em suas propostas de redução de tarifas e subsídios para viabilizar um acordo na Rodada Doha de liberalização do comércio.

¿ O que há na mesa hoje não é suficiente para chegar a um acordo ¿ insistiu o diretor da OMC ontem, em reunião na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

¿Indústria brasileira está mais competitiva¿, diz Lamy

Esse avanço nas ofertas pedido por Lamy tem que ser alcançado até o dia 30, quando os membros da OMC apresentarão propostas definitivas nas áreas agrícola, industrial e de serviços. Sem isso, será difícil chegar a um acordo final ainda este ano. E, em 2007, ficará mais complicado avançar nas conversas com os EUA, já que expira o prazo de uma autorização especial do Congresso americano para que o Executivo conduza negociações comerciais.

Lamy veio ao Brasil acompanhar a reunião informal entre as principais vozes na OMC: o comissário da UE para o Comércio, Peter Mandelson, e o representante comercial dos EUA, Robert Portman, que estão no Rio a convite do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O encontro procura destravar as negociações.

Em São Paulo, Lamy afirmou aos dirigentes empresariais que o Brasil terá de melhorar sua oferta para reduzir tarifas de importações de bens industriais, barreiras no setor de serviços e restrições para acesso a mercado.

¿ A indústria brasileira está mais competitiva e o país mais ofensivo que defensivo em suas propostas ¿ disse.

Até agora, o governo brasileiro indicou um corte de até 50% nas tarifas industriais, mas exige que UE e EUA melhorem suas ofertas na área agrícola. O comissário europeu já declarou que considera essa oferta insuficiente. Mas, para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, os sinais dados pelo Brasil foram maiores do que os emitidos por UE e Estados Unidos.

¿ É preciso haver maior equilíbrio entre as propostas ¿ disse Skaf.

No Rio, o dia ontem foi reservado a encontros bilaterais. O chanceler brasileiro aproveitou a reunião com o comissário europeu para reiterar a visão do Brasil sobre um acordo Mercosul-UE.

¿ Dei a minha visão porque ele (Mandelson) confessou que não estava muito concentrado ainda nisso ¿ disse Amorim.

Na semana passada, o Mercosul apresentou em Bruxelas uma oferta para acelerar o corte de tarifas para a importação de veículos e para realizar alguma abertura no setor de serviços. Mas, até agora, a UE não sinalizou com uma contraproposta. Amorim contou que, no encontro, Mandelson tentou discutir a escolha brasileira para o padrão de TV digital:

¿ Ele (Mandelson) falou, mas eu não ouvi. É um assunto que eu só converso de maneira coletiva, num grupo coordenado pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ¿ afirmou.

Celso Amorim recebeu carta de manifestantes

Enquanto as reuniões ocorriam a portas fechadas, cerca de 60 manifestantes tomaram as calçadas na porta do Copacabana Palace. Organizado pela Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) e pela ActionAid, o protesto contou com a participação de organizações de trabalhadores agrícolas, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Os coordenadores do grupo entregaram uma carta ao ministro Amorim, na qual demonstram a preocupação de que o acordo na OMC prejudique a agricultura familiar no Brasil.