Título: IMIGRANTES E CONSERVADORISMO
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 01/04/2006, O Mundo, p. 44

Todos falam que os republicanos estão divididos sobre a questão da imigração. Os políticos do estilo ¿lei e ordem¿ querem fechar a fronteira. Os de estilo ¿livre mercado¿ querem abundância de trabalhadores. Mas quero falar para os ¿social-conservadores¿, porque são vocês que vão decidir este debate.

Gostaria de fazer vocês acreditarem no mesmo que o senador Sam Brownback: que uma lei de imigração equilibrada é coerente com os valores conservadores. Gostaria de persuadir os líderes evangélicos a pararem de se esconder quando o tema é este.

Meu primeiro argumento é que os defensores da exclusão estão errados quando dizem que a atual onda de imigração está rasgando nosso tecido social. Os fatos mostram que o recente crescimento da imigração não está sendo acompanhado por problemas sociais. No momento em que a imigração aumenta, o índice de crimes violentos caiu 57%. A gravidez de adolescentes e as taxas de aborto caíram em um terço. Os adolescentes têm menos parceiros sexuais e perdem a virgindade mais tarde. A taxa de divórcio de jovens está em queda.

Meu segundo argumento é que os imigrantes são como uma dose de vacina de moralidade tradicional injetada no corpo político. Os imigrantes trabalham pesado. Têm idéias tradicionais sobre a estrutura familiar e se empenham para torná-las uma realidade.

Hispânicos e imigrantes hispânicos têm menos dinheiro do que o americano médio, mas gastam o que têm com as famílias. Hispânicos têm 57% mais chances de comprar móveis para crianças do que o americano médio. Os mexicano-americanos gastam 93% mais em música infantil.

Eles mais freqüentemente apóiam seus pais financeiramente. Eles fazem mais jantares para muitos familiares em casa. Isto não é um comportamento estrangeiro. É um comportamento admirável, o antídoto para o excesso de individualismo que os social-conservadores condenam.

Meu terceiro argumento é que bons valores levam ao sucesso, e que as contribuições de longo-prazo dos imigrantes mais do que compensam as tensões de curto-prazo que provocam. Não há por que negar as tensões que a imigração impõe a escolas, hospitais e níveis salariais em alguns mercados.

A longo prazo, os imigrantes são bem sucedidos. Já na segunda geração, a maioria das famílias de imigrantes são de classe média e pagam impostos que mais do que cobrem os custos da primeira. Na terceira geração, 90% falam inglês fluentemente e 50% se casam com não-hispânicos.

Meu quarto argumento é que o governo deve ser pelo menos tão honesto quando os imigrantes. No momento (e também no projeto de lei de Bill Frist), o governo empurra os imigrantes para um mundo subterrâneo. A proposta de lei da Comissão do Judiciário, apoiada por Brownback, fecharia mais as fronteiras, mas também recompensaria a virtude. Os imigrantes que trabalharam pesado, pagaram multas, impostos, não cometeram delitos e esperaram por sua vez teriam a chance de se tornarem cidadãos.

DAVID BROOKS é colunista do ¿New York Times¿