Título: EUA: SITUAÇÃO DE IMIGRANTES MOBILIZA SENADO
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 01/04/2006, O Mundo, p. 44

Conservadores, empresários e movimento social defendem propostas diferentes para trabalhadores estrangeiros ilegais

WASHINGTON. De um lado estão os eleitores que exigem que os Estados Unidos tenham fronteiras mais controladas ¿ especialmente a que separa o país do México ¿ para evitar a entrada de terroristas e, mais comumente, da mão-de-obra barata que reduz os salários dos americanos sem preparo suficiente para empregos mais rentáveis.

¿ Os americanos que abandonaram os estudos no secundário estariam ganhando hoje 8% mais se impedíssemos a entrada ilegal de mexicanos ¿ disse Lawrence Katz, economista da Universidade de Harvard.

De outro estão empresários ¿ muitos dos quais fazem contribuições para campanhas políticas ¿ querendo deixar tudo como está, pois dependem dos imigrantes, em especial latino-americanos, para continuar expandindo suas companhias.

¿ Impedir a entrada desses trabalhadores, ou expulsar os que já estão aqui, significa que a economia dos EUA deixará de crescer no ritmo atual ¿ alegou Mark Zandi, economista-chefe da Moody¿s Economy.com.

Entre os dois grupos estão os senadores, numa posição incômoda: neste ano de eleição para o Congresso, eles se vêem às voltas com um intenso debate sobre uma nova lei de imigração, e se mostram indecisos.

A polêmica é grande uma vez que, tirando as questões econômicas e políticas, há um aspecto humanitário que tem levado centenas de milhares de pessoas a participar de marchas de protesto tão freqüentes quanto numerosas em todo o país: o destino de 12 milhões de imigrantes ilegais que, dependendo da decisão, poderão se ver diante da possibilidade de deportação em massa.

Questão vem ganhando força nos últimos dias

Por isso mesmo o tema vem ganhando força nos últimos dias: a questão da imigração começa a ser comparada ao movimento dos negros nos anos 60:

¿ É inacreditável o que estamos vendo. As pessoas estão se juntando de forma espontânea. É quase um levante dos imigrantes. Chamaria isso de um renascimento do movimento pelos direitos civis no país ¿ disse Partha Banerjee, diretor da Immigration Policy Network, organização não-governamental que defende os imigrantes.

Isso, segundo Raul Yzaguirre, diretor do National Council of La Raza, o maior grupo de defesa dos latino-americanos nos EUA, significa o surgimento do Latino Power (o poder latino) no país:

¿ Até aqui havia uma divisão entre os hispânicos nascidos nos Estados Unidos e os imigrantes sem documentação legal. Agora, há uma consciência de que todos estamos juntos nessa luta ¿ disse ele.

Veronica Dahlberg, ativista que tem organizado várias marchas, emendou:

¿ Estamos nos sentindo sitiados e encaramos a questão como algo pessoal. Quando ouvimos as palavras ¿estrangeiro ilegal¿ na TV elas soam tão pejorativas como a palavra ¿negro¿ nos anos 60.

O Senado vem tentando conciliar uma lei estilo linha-dura, já aprovada pela Câmara em dezembro passado ¿ a sua ênfase é na construção de um muro de 1.130 quilômetros ao longo de vários trechos da fronteira com o México ¿ com uma proposta mais atenuada, que permitiria a entrada de ¿trabalhadores hóspedes¿: depois de trabalharem seis anos nos EUA, eles poderiam requerer a cidadania americana.

O problema é que setores mais conservadores vêm insistindo não só que o tal muro seja maior mas que os imigrantes que já se encontram no país sejam presos e deportados, mesmo que já tenham filhos nascidos nos EUA.