Título: Lula perde a primeira volta
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 02/04/2006, O País, p. 2

Ao fim de uma das piores semanas de seu mandato, o presidente Lula pareceu deprimido na sexta-feira. Afora o baque da saída de Palocci, perdera oito ministros. O fogo adversário segue alto e apontado para ele. Insinuou que pode não concorrer. Fala-se em pesquisa ruim para ele a caminho mas se Lula olhou o mapa, viu que enquanto trocava ministros o adversário avançou e levou a melhor no jogo das alianças.

A semana terminou gorda para a oposição em várias frentes, embora Alckmin tenha enfrentado assuntos incômodos, como a origem do guarda-roupa da mulher e o uso dirigido das verbas publicitárias da Nossa Caixa. Já o relatório da CPI dos Correios foi uma bordoada no PT e no governo, mesmo poupando Lula. Mas foi nos estados que a coligação tucano-pefelista ganhou terreno, atraindo para alianças a maioria das seções do PMDB. Pegando pelos governadores, é o caso de Joaquim Roriz em Brasília, de Luiz Henrique em Santa Catarina, de Rigotto no Rio Grande do Sul e talvez o de Requião no Paraná. Em Minas, o PMDB já se entregou a Aécio Neves. No Rio, o candidato Sergio Cabral apoiará Alckmin. Os Garotinho farão o mesmo se e quando a candidatura do ex-governador for descartada. Renan Calheiros, embora contado como lulista, será aliado do tucano Teotônio Vilela Filho em Alagoas. Em São Paulo, Quércia está em marcha batida para se juntar ao PSDB, nascido para renegá-lo. Ali, no centro da batalha eleitoral, os tucanos reforçaram a cavalaria com a candidatura de Serra ao governo.

No Rio Grande do Norte, a mesma coisa: PFL, PSDB e PMDB juntos, assim como em Pernambuco. Está sobrando pouco PMDB para Lula. Terá o apoio de Sarney, de Eduardo Braga, no Amazonas, de José Maranhão na Paraíba e alguma coisa mais.

Até mesmo Ciro Gomes, que foi cotado até para ser seu vice, pode se juntar ao amigo tucano Tasso Jereissati no Ceará, em apoio a seu irmão Cid Gomes, do PSB.

O PSB já escapuliu. Além de se juntar ao PSDB no Ceará, lançará a candidatura de Eduardo Campos, ex-ministro de Lula, contra a do petista Humberto Costa em Pernambuco. Até o PCdoB, aliado oficial do PT desde 1989, pode ficar só no apoio informal a Lula. Pode não se coligar para lançar candidatos a governador, como o ex-ministro Agnelo Queiroz no DF, onde o PT quer ter o seu.

Dirceu está fazendo muita falta a Lula. Foi ele que montou as alianças em 2002. Sem se anunciar candidato, e deixando o assunto a cargo do presidente do PT, Ricardo Berzoini, Lula parece ter perdido o primeiro round.