Título: A migração de votos ligados à Universal
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 02/04/2006, O País, p. 3

SÃO PAULO. Documentos do caso Nossa Caixa, aos quais o GLOBO teve acesso, indicam que há mais deputados citados, além dos cinco sob investigação, e mais verbas supostamente direcionadas para favorecimentos. São cerca de 8.000 páginas de documentos que já estão no Ministério Público Estadual. Um dos blocos de investigação aponta que a Rede Aleluia de rádio, ligada à Igreja Universal, teria recebido R$40 mil, pagos antecipadamente, por pressão do setor de Comunicação do Palácio dos Bandeirantes, em 14 de março de 2005, véspera da eleição da Mesa diretora da Assembléia.

A bancada da Universal tem cinco deputados e votou dividida no dia 15 de março. Dois deles teriam mudado seus votos após o pagamento do patrocínio. Eles votariam no deputado Rodrigo Garcia (PFL), que acabou vencendo a eleição para a presidência da Casa, mas acabaram optando por votar no líder do governo, Edson Aparecido (PSDB).

Um dos documentos integra a sindicância feita pelo próprio banco. O ex-gerente de marketing Jaime de Castro Júnior produziu um relatório com informações complementares, dirigido à Comissão de Disciplina do banco, dia 7 de novembro do ano passado. Ele conta que no dia 11 de março recebeu um telefonema do Palácio dos Bandeirantes, lhe informando que havia uma ¿necessidade política¿ de o governo patrocinar um evento para a rádio, por causa de um compromisso assumido com um deputado que ¿estava exercendo fortíssima pressão¿.

O pedido original era de R$70 mil, mas foi reduzido para R$40 mil. Os representantes do veículo não teriam aceitado o pagamento em data posterior. O ex-gerente diz que pode oferecer detalhes sobre o operação e que há outros casos que devem ser denunciados.

Os promotores começaram a investigar o caso por conta própria, a partir de uma carta anônima. Apesar de não ser praxe a abertura de casos a partir desse tipo de informação, o Ministério Público optou pela investigação devido ao grau de detalhamento dos supostos esquemas em várias áreas do governo, incluindo a Nossa Caixa.

O setor de comunicação do Palácio dos Bandeirantes informou que apenas o secretário da Casa Civil, Arnaldo Madeira, poderia falar sobre o assunto, mas a assessoria não conseguiu localizá-lo na sexta-feira. Já o líder da bancada da Igreja Universal, Wagner Salustiano, não respondeu aos pedidos de entrevista.