Título: NUM VÔO, APLAUDIDO PELOS PASSAGEIROS
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 02/04/2006, O País, p. 15

Francenildo vai insistir para que pai assuma paternidade

BRASÍLIA. Mesmo a contragosto, Francenildo Santos Costa é parado na rua por onde quer que passe. Quinta-feira, quando embarcou em São Paulo num avião de volta para Brasília, foi aplaudido pelos passageiros. Tímido, se encolheu na poltrona, contou o advogado. Mas o pior ainda estava por vir:

¿ Ele já não sabia o que fazer quando a aeromoça anunciou que ele ganhou o sorteio de um brownie. Alguns passageiros que o reconheceram ficaram gritando: ¿É marmelada!¿ ¿ contou o advogado.

Ao desembarcar em Brasília, Nildo pediu que o advogado lhe deixasse num ponto qualquer do Lago Sul e, como fizera nos últimos dias, não avisou para onde ia. Quase ninguém, nem seu advogado, sabe onde está dormindo.

Wlício disse que o caseiro faz planos para voltar para Teresina, onde nasceu e foi criado. Segundo ele, Nildo está obcecado com a idéia de convencer o seu suposto pai biológico, Eurípedes Soares da Silva, dono de uma modesta empresa de ônibus na cidade, a reconhecer a paternidade.

¿ Ele quer que o pai faça o teste de DNA e ficou muito feliz quando soube que ele está disposto a isso ¿ disse o advogado.

Nildo foi obrigado a revelar a história depois que sua conta bancária foi invadida, episódio que culminou na demissão de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda e de Jorge Mattoso da presidência da Caixa. A quebra ilegal do sigilo revelou que Nildo recebeu, nos últimos três meses, depósitos de R$25 mil. O caseiro disse que pediu o dinheiro ao suposto pai depois que ele se recusou a assumir a paternidade.

Numa recente entrevista, Nildo contou por que insistiu para que o pai assumisse a paternidade:

¿ Foi só para jogar na cara dos abestados que ele era meu pai. (Ficava) ouvindo piadinhas, ficava chateado. Todo mundo tem pai e fica fazendo piada ¿ disse.

Nildo contou que o empresário se negou a assumir a paternidade e que, para que isso acontecesse, disse que ele teria que entrar na Justiça. Com naturalidade, ele contou que então resolveu pedir dinheiro:

¿ Peguei dinheiro do véio lá.

Em seguida, se queixou de não ter sido tratado como filho:

¿ Ele me deu o dinheiro e só me abraçou na hora de ir embora. Não me chamou de filho. O bicho véio é duro.

Nildo é o mais velho de quatro irmãos. Desde os 6, trabalhava na roça, plantando arroz e feijão, de segunda a sábado. Todo o dinheiro que ganhava ia para a mãe, que lavava roupa para fora às margens do Rio Parnaíba. Aos 15, fez como muitos conterrâneos seus: embarcou para Brasília em busca de trabalho e acabou virando caseiro.