Título: Produção mundial já chega a 90 toneladas
Autor: Elenilce Bottari
Fonte: O Globo, 02/04/2006, Rio, p. 23

Empresas de exportação de fachada e rotas marítimas facilitam o tráfico da Holanda para o Brasil

Com uma produção mundial estimada em 90 toneladas de comprimidos e um forte mercado consumidor na Europa, Oceania, Estados Unidos e América do Sul, as rotas de tráfico de ecstasy para o Brasil começam a se diversificar, segundo o Departamento Nacional de Polícia Federal. Se nos anos 90 a droga chegava ao Rio só com jovens que compravam pequenas quantidades em viagens para Amsterdã, na Holanda, para se exibirem ou revenderem os comprimidos como curiosidade, hoje o tráfico conta até com rota marítima e empresas de exportação de fachada.

Segundo as investigações da polícia, a droga sai da Holanda em navio, seguindo para o Suriname, na América do Sul. De lá, atravessa os 593 quilômetros de fronteira e entra pelo Pará, descendo para São Paulo, Rio, Curitiba e Florianópolis através das estradas federais ou seguindo por vôos domésticos.

Bando trazia droga em carros importados

Titular da 16ª DP (Barra), o delegado Rodrigo Oliveira investigou durante três anos o envolvimento de jovens do Rio no tráfico de ecstasy. Em 2004, através da Operação Máfia dos Surfistas, ele descobriu uma rota que usava carros importados para trazer a droga para o Rio.

¿ Os traficantes compravam haxixe e ecstasy no Marrocos, que chegavam ao Brasil em carros com placas da França adquiridos por dois espanhóis, que estão foragidos. Quando o prazo de permanência dos carros importados acabava, os veículos eram trocados no Paraguai, supostamente pela cocaína que era mandada do Rio para a Europa ¿ explica o delegado.

Na operação foram presos quatro homens, três deles jovens de classe média alta. Segundo o delegado, que realiza uma investigação sobre o tráfico de ecstasy em condomínios de luxo da Barra, algumas apreensões recentes demonstram a entrada de novas drogas sintéticas na cidade.

¿ Entre elas estão a cápsula do vento, também conhecida como cápsula do pânico, e o cristal ice. A cápsula do vento é identificada assim porque, contra a luz, dá impressão de que está vazia. No entanto, contém micropontos com substância alucinógena cujo efeito chega a durar quarenta horas, podendo provocar pânico no usuário.

Conhecida como a droga do amor, o ecstasy tem hoje mais de mil formas de comprimidos, sendo apresentado livremente na internet, em sites estrangeiros e em comunidades do Orkut. A base de metilenodioximetanfetamina (MDMA) provoca euforia e sensação de bem-estar. Os efeitos colaterais podem ser graves. O aumento da temperatura, que chega 41 graus, pode provocar micro-hemorragias e quebra de proteínas, degenerando tecidos, principalmente musculares. Além disso, há casos de morte instantânea por aumento da pressão.

¿ O ecstasy surgiu como droga de emagrecimento. No fim dos anos 50, passou a ser usado pelos meios de espionagem, para obtenção de informações, já que provoca uma grande sensação de simpatia pelas pessoas no entorno ¿ explica o psiquiatra Jorge Jaber, diretor de uma clínica de desintoxicação no Leblon. ¿ A partir dos anos 60, um grupo de psiquiatras da Califórnia passou a usá-la em tratamentos, o que difundiu o uso e provocou sua proibição na década de 70. O ecstasy retornou nos anos 80 com força total no Havaí, como substituto mais barato da cocaína.

Já o cristal ice (cristal de gelo) é uma metanfetamina consumida em cachimbos, como o crack. O principal produtor é a Birmânia, onde já desbancou a papoula, matéria-prima da heroína. De lá, é enviada à Tailândia, ao Japão e aos EUA.

Também vem crescendo no Rio o uso de esteróides anabolizantes, como o GHB (gama-hidroxibutirato) e a ketamina. O GHB provoca sedação, náuseas vômitos e amnésia, sendo conhecido como droga do estupro. Em dose excessiva leva ao coma. O Special K (ketamina ou hidrocloridrato de ketamina) é um anestésico usado principalmente em animais. Funciona como alucinógeno.