Título: GALERIAS SÃO DIVIDIDAS POR FACÇÃO CRIMINOSA
Autor: Ruben Berta
Fonte: O Globo, 02/04/2006, Rio, p. 25

Diretor alega que a medida ajuda a preservar os jovens

Apesar de afirmar inicialmente, na segunda-feira, que as galerias do Instituto Padre Severino (IPS) só seriam divididas por idade e tipo de crime, o próprio diretor-geral do Degase, Jaques Cavalcanti, admitiu anteontem que os menores que chegam à unidade são divididos por facções criminosas. Segundo ele, a intenção é preservar a integridade dos jovens e evitar tumultos:

¿ Infelizmente, temos de tomar essa precaução.

Na segunda-feira, alguns jovens já haviam relatado a forma da divisão. Apenas duas galerias estariam reservadas a uma facção e o restante ficaria com a rival. Apesar de servir para evitar conflitos, a divisão acaba criando um padrão muitas vezes desconhecido para jovens do interior do estado, que recebem penas de internação em suas cidades e são obrigados a passar pelo IPS, unidade provisória.

¿ Eu me lembro que numa visita que fiz a uma unidade perguntei a um jovem do interior o que ele achava de uma determinada facção criminosa. Ele achou que aquela sigla era o nome de uma menina e me disse que nunca tinha namorado com ela, não ¿ conta o ex-secretário de Infância e Juventude Evandro Steele, ressaltando a importância da construção de novas unidades no interior para que os menores não fiquem muito tempo internados na capital.

Jovens ficam internados além do tempo

Outro fator que agrava a situação do IPS é o longo período de internação que muitos jovens passam na unidade onde poderiam no máximo ficar por 45 dias. Num grupo de dez jovens entrevistado numa das salas de aula da unidade, a metade já tinha o prazo vencido.

¿ A maior parte desses garotos vem de comarcas do interior do estado onde a Justiça tem sido muito lenta para julgar seus casos ¿ explica o diretor-geral do Degase.

Na segunda-feira, a principal reclamação levantada pelos jovens, além das denúncias de maus-tratos, foi a falta de condições dos alojamentos. Numa primeira tentativa, repórteres do GLOBO foram impedidos pelo diretor da unidade, que pediu para não ser identificado, de registrar as condições do local. A alegação era falta de segurança. Na sexta, a entrada foi liberada somente com a presença de uma comissária da 2ª Vara de Infância e Juventude.

A falta de condições nos alojamentos contrastava com a criatividade dos jovens: um barbante queimado pendurado, chamado de BR, serve para acender cigarros de madrugada. Um tabuleiro de damas podia ser visto riscado numa das camas de cimento. As peças utilizadas eram pedaços de espumas dos poucos colchões que restavam: azuis e vermelhos.