Título: SUPERLOTAÇÃO DEIXA JOVENS AMONTOADOS
Autor: Ruben Berta
Fonte: O Globo, 02/04/2006, Rio, p. 25

Na segunda e na sexta-feira passadas, durante visita de repórteres do GLOBO ao Instituto Padre Severino (IPS), na Ilha do Governador, menores internos só reforçaram o que as cartas escritas pelo interno do Educandário Santo Expedito relatam: sessões diárias de espancamento por agentes, com o agravante da superlotação, vista nas péssimas condições do alojamento. Até três menores dormem no espaço de uma cama de solteiro. Segundo a direção do Degase, há 368 jovens no espaço em que caberiam 160.

¿ Não temos colchão. Se alguém passar mal ainda apanha. Quando tem um passando mal à noite, os agentes gritam: ¿Vai dormir, seu demônio!¿. Há algumas semanas, um garoto que já foi transferido para um Criam tomou uma mordida de rato e ficou com o dedo todo inchado. Baratas são mais do que comuns ¿ conta um deles.

Na segunda-feira passada, um grupo de jovens que foi trazido de dentro dos alojamentos por agentes não fez qualquer tipo de denúncia de maus-tratos no IPS. A entrevista foi supervisionada pelos agentes e por diretores da unidade e do Degase. Numa sala de aula, sem a presença dos agentes, um outro grupo fez as denúncias.

¿ A gente não pode nem orar depois das 22h. Os agentes gritam: ¿Balão (luz) apagou, só respira, só respira!¿. Quando eles ligam o balão, a gente sabe que vai apanhar. Eles vêm em dez. Gostam de bater na cara ¿ diz um deles.

Apesar de afirmar inicialmente que as galerias do IPS só seriam divididas por idade e tipo de crime, o próprio diretor-geral do Degase, Jaques Cavalcanti, admitiu anteontem que os menores são divididos por facções criminosas para preservar a integridade deles e evitar tumultos.