Título: DESTROÇOS DE AVIÃO SÃO ACHADOS SEM SOBREVIVENTES
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Fonte: O Globo, 02/04/2006, Rio, p. 33

Corpos carbonizados dos 19 ocupantes do bimotor que caiu anteontem em Rio Bonito serão submetidos a exame de DNA

Os destroços do avião bimotor ¿ um turboélice LET-410 prefixo PP-FSE ¿ da empresa Team, que caiu, anteontem, por volta das 18h na Serra da Castelhana, em Rio Bonito, próximo à divisa com Saquarema, foram encontrados na madrugada de ontem no Pico da Pedra Bonita, pelas equipes de Buscas e Salvamento do Corpo de Bombeiros. Os corpos dos 17 passageiros e dois tripulantes começaram a ser resgatados de helicóptero, na manhã de ontem, e foram levados até a Estrada do Rio Mole, de onde seguiram em carros da Defesa Civil para o Instituto Médico Legal do Rio. A aeronave havia saído de Macaé às 17h19m de sexta-feira e deveria ter chegado ao Rio uma hora depois.

Os parentes das vítimas do bimotor foram acomodados pela Team em 13 apartamentos no Hotel Othon, próximo ao Aeroporto Santos Dumont. Lá, a Team montou um apoio médico, psicológico e religioso para atendê-los. O secretário estadual de Defesa Civil, Carlos Alberto de Carvalho, acredita que o avião tenha caído após passar por uma tempestade, que fez com que o piloto desviasse sua rota para o litoral.

Nesse desvio, segundo o secretário, o avião teria batido na ponta do Pico da Pedra Bonita, a 600 metros de altura. A maioria das vítimas era ligada ao setor petrolífero e pelo menos quatro eram funcionários da Petrobras.

Trabalharam na operação de resgate 85 homens da Defesa Civil estadual e do Corpo de Bombeiros de vários municípios, que tiveram apoio de 60 homens da Guarda Municipal e da Defesa Civil de Rio Bonito. A equipe teve que caminhar três horas da Estrada do Rio Mole até a área do acidente. Os corpos estavam próximos uns dos outros.

Acidente ocorreu 15 minutos após a decolagem

Pouco antes das 9h, o Departamento de Aviação Civil (DAC) liberou a área para o resgate, depois de fazer a perícia e recolher peças da aeronave. O diretor do IML, o perito Roger Ancillotte, afirmou que os corpos devem demorar para ser identificados pois estão carbonizados e mutilados. Eles serão submetidos a exames de DNA. Apenas seis corpos poderão ser enterrados hoje.

O acidente ocorreu 15 minutos depois de o avião ter decolado do Aeroporto de Macaé com destino ao Santos Dumont. O diretor de relações institucionais da Team, David Faria, disse que o último contato do piloto foi às 17h35m com a estação de controle de vôo da Marinha, em São Pedro de Aldeia. No contato, o comandante Michael Peter Hutten não mencionou qualquer tipo de problema. Pouco antes da queda, o aparelho foi detectado pelo radar do Pico do Côco, na Rodovia Rio Juiz-de Fora, bem abaixo da altura permitida para o vôo. David Faria, porém, não falou se houve defeito técnico ou falha humana. Ressaltou que o comandante tinha quase 30 anos de experiência (dos quais cinco na Team), assim como o co-piloto Albaruz Jaime Eloir.

¿ Ainda não sabemos a causa do acidente. Isso será descoberto após uma investigação complexa feita pela Aeronáutica e acompanhada pela Team. Não há como duvidar da competência do piloto ¿ disse Faria.

Segundo o diretor, a autonomia de vôo da aeronave, fabricada pela Let Aircraft Industries, a maior empresa tcheca de aeronaves civis, é de cinco mil horas, aproximadamente. O aparelho passou por manutenção completa há dois meses e o primeiro vôo após a revisão foi em 29 de janeiro. Desde então, o avião estava com 248 horas de vôo. A Team é dona de três aviões desse modelo, que fazem a rota Macaé-Rio de Janeiro, dez vezes por dia. Foi o primeiro acidente desde que eles foram comprados, há cinco anos.

Durante a manhã de ontem, parentes e amigos das vítimas chegaram ao lugar onde estavam concentradas as equipes de resgate do acidente, na Estrada do Rio Mole, na altura do quilômetro 17 da Via Lagos. Soraia Hutten, mulher do piloto, foi uma delas. Ela disse que falou pela última vez com o marido às 16h de sexta-feira, quando ele ainda estava no aeroporto de Vitória. O piloto tinha quatro filhas. Segundo Soraia, ele foi observador militar da ONU, piloto de caça da FAB e especialista em segurança de vôo.

¿- Combinei de apanhá-lo no Aeroporto Santos Dumont. Meu marido era um piloto experiente, egresso da Força Aérea. Ele costumava elogiar a Team devido ao cuidado que a empresa tem com a manutenção das aeronaves. Meu marido fazia essa mesma rota pelo menos três vezes por semana. Acredito que tenha sido falha mecânica ¿-- disse a mulher.

Paulo Pereira, funcionário da Hochtis, construtora que está fazendo obras para a Petrobras no Parque de Tubos de Macaé, também foi ao local do acidente. Ele era amigo de cinco das vítimas ¿ Antunes Bartolomeu, Ribamar Cassemiro, Jorge Costa, Marco Galasso e Thaís Santos ¿ que trabalhavam com ele e moravam em São Paulo.

O prefeito de Rio Bonito, José Luis Mandiocão, disse que chovia na hora em que o avião bateu na Serra da Castelhana, em Rio Bonito. Ele informou que a aeronave caiu num trecho de mata nativa, com árvores muito altas, a cerca de dois quilômetros da localidade conhecida como Boqueirão. Segundo o prefeito, o último acidente aéreo em Rio Bonito ocorreu na década de 30, na Serra do Sambê.

¿- Acredito que as condições do tempo tenham causado o acidente. Chovia e é comum a serra ficar coberta de neblina. Colocamos todos os serviços da prefeitura à disposição, mas infelizmente não há o que fazer ¿- lamentou o prefeito, que acompanhava o trabalho das equipes de resgate do Corpo de Bombeiros.

Para especialista, houve uma pane na aeronave

Com mais de 12 mil horas de vôo, o comandante Moisés Mena, ex-piloto do Salvamar e hoje professor de pilotos de aviões e helicópteros, acredita que tenha ocorrido com o avião da Team o problema mais temido pelos pilotos: uma pane elétrica, que desliga todos os instrumentos da aeronave. Há mais de dez anos Mena sobrevoa a região onde aconteceu o acidente. Ali, os aviões passam a uma altitude média de 2.400 metros.

¿ Certamente aconteceu uma pane muito séria, que não permitiu ao piloto pedir socorro à torre de São Pedro da Aldeia ou ao Controle Rio (no Aeroporto Internacional Tom Jobim). Se as condições de visibilidade fossem boas, o piloto poderia ter tentado um pouso de emergência, pois existem áreas propícias para isso, mas distantes da serra ¿ explicou o especialista, acrescentando que a aeronave que caiu anteontem não tem caixa preta.

Segundo o comandante Mena, a área do acidente é corredor normal dos aviões que operam em linhas entre o Norte e o Sul do País.

¿ No momento, tudo é especulação. Somente após a investigação do DAC é que se saberá a causa do acidente ¿ concluiu ele.

PARTICIPARAM DA COBERTURA Adriana Castelo Branco, André Miranda, Aline Gomes, Jorge Martins, Natanael Damasceno e Paulo Roberto Araújo