Título: Quase metade dos cariocas está em atraso ou não vai pagar empréstimos
Autor: Liane Thedim
Fonte: O Globo, 02/04/2006, Economia, p. 36

Pesquisa mostra que 73% têm entre 20% e 50% da renda comprometidos

A farra do crédito iniciada no ano passado pode não ter um final feliz para muita gente. Pesquisa realizada no Rio pelo Laboratório UniCarioca de Pesquisas Aplicadas (Lupa), a pedido do GLOBO, mostra que 43,47% dos entrevistados já estão em atraso ou vão deixar de pagar prestações de empréstimos nos próximos três meses. O levantamento mostra ainda que 73% dos consumidores têm entre 20% e 50% da renda comprometidos com empréstimos e, apesar disso, 56,43% deles pretendem pegar mais financiamentos este ano.

¿ Isso é um reflexo da facilidade com que o crédito é concedido atualmente. Cada vez mais bancos, que não viam a baixa renda como opção para emprestar dinheiro, estão buscando esse nicho de mercado, incluindo quem não tem emprego ou renda comprovados ¿ afirma Miguel Ribeiro de Oliveira, presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac). ¿ E o brasileiro não sabe usar crédito ¿ acrescenta.

Para Maura Xerfan, coordenadora de marketing institucional da UniCarioca e analista responsável pela pesquisa, o resultado reflete a situação, sobretudo de consumidores das classes C e D, do elevado nível de comprometimento de renda. Ela afirma que isso é demonstrado pela parcela que pretende pegar empréstimos para gastos do dia-a-dia, como pagamento de contas e aluguel: 15,47%. O recurso será usado para pagar outras dívidas por 15,03%. Outros 25,93% usarão financiamentos para comprar bens. Os novos empréstimos em sua maioria estarão na faixa de até mil reais (46,89%), seguidos pelos até R$500 (25,36%).

A participação do crédito rotativo do cartão (em que o consumidor paga o mínimo da fatura e rola o restante para o mês seguinte) é esmagadora ¿ 42,24% dos entrevistados afirmam ser a principal modalidade de crédito que usam. O problema é que esta é a segunda modalidade mais cara do mercado, com juros médios de 10,24% ao mês, perdendo apenas para os empréstimos em financeiras (taxa média de 11,56% ao mês), segundo a Anefac. De acordo com Maura, isso ocorre porque comprar com cartão é mais fácil do que abrir um crediário, por exemplo, que exige comprovação de renda e residência.

¿ A parcela da população que mais precisa de crédito é justamente a que menos conhece alternativas mais baratas e acaba pagando juros abusivos ¿ afirma o consultor de finanças pessoais Victor Zaremba. ¿ As famílias precisam priorizar gastos e sanear as contas.