Título: OMC: PRODUTOS `MADE IN CHINA¿ SÃO APENAS MONTADOS NO PAÍS ASIÁTICO
Autor: Gileberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 02/04/2006, Economia, p. 39

Estudo diz que empresas levam componentes prontos para fábricas chinesas

PEQUIM. Quando o presidente da China, Hu Jintao, se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, no dia 20 deste mês, a crítica dos americanos ao gigantesco superávit comercial chinês de US$200 bilhões em 2005 certamente estará na mesa. Mas Hu Jintao, desta vez, poderá argumentar ¿ com dados da própria Organização Mundial do Comércio (OMC) ¿ contra o pedido dos EUA para que deixe o yuan flutuar mais livremente.

Estudo da OMC sobre a indústria exportadora chinesa ¿ o primeiro do tipo feito pela entidade e cuja divulgação deveria ocorrer em abril, mas foi publicado na semana passada pelo ¿China Daily¿ ¿ mostra que a inundação mundial de produtos chineses a custo baixíssimo é, na verdade, resultado da mudança, para a China, de indústrias estrangeiras de olho em custos mínimos de produção, principalmente trabalhistas.

Por trás do desempenho imbatível chinês estaria uma indústria composta, na sua maioria, por fábricas de multinacionais (especialmente de Japão, Taiwan e Coréia do Sul), cuja montagem final dos produtos se dá em solo chinês. São brinquedos, eletrônicos, celulares e computadores que vão para o mundo com o selo ¿Made in China¿, mas cujos componentes tecnologicamente mais avançados são feitos em outros países e só montados na China.

¿ Há uma redução evidente nas exportações asiáticas como um todo para os EUA e a Europa e, por outro lado, um aumento das vendas chinesas, o que mostra que os chineses passaram a substituir outros países como fornecedor mundial. Mas esse é um raciocínio sofisticado, e acredito que as retaliações contra a China vão aumentar porque é mais fácil usá-la como bode expiatório ¿ afirma Michael Pettis, professor de finanças internacionais da Universidade de Tsinghua.

Multinacionais geram entre 60% e 80% das exportações

Segundo o estudo da OMC, Taiwan teve um superávit comercial de US$58 bilhões com a China em 2005, à frente de países maiores, como Coréia do Sul (com saldo de US$42 bilhões) e Japão (US$16,5 bilhões).

Segundo o governo de Pequim, de 60% a 80% das exportações chinesas, dependendo da cadeia de produtos analisada, são gerados de empresas resultantes de investimentos estrangeiros na China, seja inteiramente multinacional, seja em parceria com indústrias chinesas. Os fabricantes de micros taiwaneses mudaram-se para a China, por exemplo, assim como os de eletrônicos japoneses, as empresas têxteis de Hong Kong e várias companhias de sapatos e brinquedos dos EUA. São empresas do porte de Panasonic, Sony, Samsung, Toshiba, Acer, entre outros gigantes.

Já há na China quem critique este padrão de crescimento industrial:

¿É melhor chamar a China de `montadora do mundo¿. É mais adequado do que `fábrica do mundo¿¿, diz Feng Zhaoki, pesquisador da Academia de Ciências Sociais da China, num polêmico ensaio publicado pela mídia estatal do país.

http://oglobo.globo.com/online/blogs/gilberto/