Título: SEGUNDO GENERAL, HÁ DESILUSÃO COM EUA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 02/04/2006, O Mundo, p. 42

Militar aponta fracasso de modelos econômicos e aumento da pobreza

WASHINGTON. Ao soar o alarme de que a América Latina está se distanciando dos Estados Unidos do ponto de vista militar e se inclinando cada dia mais para a China, o general Bantz J. Craddock insinuou que isso muito se deve a falhas da política americana de ¿exportação¿ da democracia e, principalmente, de modelos econômicos para a região.

¿ Enquanto a pobreza diminuiu no mundo quase pela metade, desde 1981 surgiram 28 milhões de novos pobres na América Latina. Isso torna muitos países da região solos férteis para terrorismo, crime organizado e movimentos radicais que minam a democracia ¿ disse.

Segundo ele, a desilusão com as receitas ditadas pelos EUA vem destruindo a confiança da região na liderança americana:

¿ Pobreza, corrupção e desigualdade contribuem para uma elevada insatisfação com a democracia e as reformas de livre mercado. E isso tem sido acompanhado pela crescente popularidade de líderes que oferecem uma alternativa através de retórica anti-EUA e anti-mercado livre ¿ disse ele.

Para o deputado republicano Walter B. Jones, da Comissão das Forças Armadas da Câmara, os EUA precisam de um plano de ação imediato para a região:

¿ Nosso continente é a região mais menosprezada por nós, em termos de esforços e de gastos para garantir a nossa tranqüilidade.

Segundo Craddock, a região andina seria o ponto onde é mais clara a vulnerabilidade e onde se localiza o foco de irradiação dos riscos aos interesses dos EUA. A segurança e a estabilidade da América Latina, e do Caribe, diz, dependem de uma intervenção política naquela área. Ele deixou claro que o eixo dessa ameaça está na Venezuela. E admitiu que, a essa altura, não será fácil neutralizar esse inimigo porque um ataque (político) teria de ser feito pelas margens, e não diretamente:

¿ Alguém disse que a essência fundamental da democracia é o direito do povo de empossar e demitir o governo. E eu digo que hoje é difícil demitir o governo da Venezuela. A preocupação é medir o que isso representa para o resto da região. Nós estamos de olho. Estamos falando com os vizinhos. Estamos trocando informações ¿ revelou. (J.M.P.)