Título: NOTÍCIA OCUPA ESPAÇO DE DESTAQUE NA MÍDIA E NO IMAGINÁRIO DE CHINESES
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 02/04/2006, O Mundo, p. 42

Universo militar é central na vida do país. José Alencar acha troca de tecnologia natural

PEQUIM. Num país onde os militares têm um canal aberto de TV e o presidente só é considerado governante de fato quando passa a chefiar as Forças Armadas, a notícia de que a China estaria treinando militares latinos ganhou enorme repercussão na mídia estatal. Ainda que o governo não fale sobre o assunto, a maneira quase glamourizada com que a mídia chinesa trata esses temas dá bem a idéia da importância dos militares para o país.

O universo militar povoa o imaginário dos chineses desde as guerras do século passado, e, principalmente, após a invasão japonesa (1937 a 1945) durante a Segunda Guerra Mundial. No mês passado, o presidente da China, Hu Jintao, anunciou orgulhoso um aumento de 14,7% no orçamento de Defesa para este ano, que chegará a US$35,1 bilhões.

¿ Devemos melhorar a qualidade de nossas forças e ampliar o sistema de Defesa. Temos que melhorar a capacidade militar para lidar com crises, manter a paz, impedir a guerra, mas vencê-la caso necessário ¿ afirmou Hu.

José Alencar nega que China tente estabelecer presença militar na região

Também no mês passado, uma entrevista do lingüista e filósofo americano Noam Chomsky à Rádio Havana ganhou grande repercussão na China. Ele disse que o aumento da influência de Pequim sobre a América Latina, do ponto de vista econômico e militar, atemorizava os EUA.

¿ A China não pode ser intimidada e o aumento das relações entre chineses e latinos está erodindo os instrumentos de dominação dos EUA ¿ disse Chomsky.

O vice-presidente e ex-ministro da Defesa do Brasil, José Alencar, acha natural que a China amplie a troca de tecnologias de treinamento militar com países da América Latina, uma vez que o intercâmbio comercial entre as duas regiões vem aumentando muito nos últimos anos.

¿ A China tem aumentado a presença na balança comercial da região e investido bastante em muitos países. O intercâmbio militar é uma conseqüência natural do desenvolvimento deste relacionamento econômico ¿ disse ele em sua viagem de cinco dias à China, em março.

Alencar, contudo, negou que a China pretenda estabelecer influência militar na região.

¿ Entendo que os EUA, como maior país das Américas, estejam preocupados com a crescente presença da China na região. Mas o Brasil, e acredito que todos os países da região, não querem ser liderados nem pelos EUA, nem pela China. No caso brasileiro, nós queremos liderar ¿ disse.

Um analista militar da região asiática concorda e lembra que Brasil e China têm programas de intercâmbio militar que não prevêem, ao menos por enquanto, exercícios conjuntos. A parceria se limita à troca de visitas e estudos de comando de Estado-Maior na Escola Superior de Guerra, no Brasil, e na Universidade Nacional de Defesa, na China, para oficiais de alta patente.