Título: Um partido atingido tem direito de apresentar relatório paralelo na CPI¿
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 03/04/2006, O País, p. 4

Novo coordenador político, Tarso Genro diz que Lula quer preservar estabilidade

O novo coordenador político do governo federal, Tarso Genro, disse que a principal preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é manter a estabilidade política no ano eleitoral. Tarso diz que a crise é ¿muito dura¿, mas ressalta que o importante é que as instituições funcionem. Afirmou defender ¿em tese¿ o direito de o PT ou qualquer partido apresentar relatório paralelo na CPI dos Correios, mas elogiou o fato de o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) ter isentado Lula de responsabilidade.

Como é assumir a coordenação política nesse momento de crise, que culminou com a saída de Antonio Palocci?

TARSO GENRO: O dever do Ministério das Relações Institucionais é criar condições para que tenhamos um ambiente de alta qualidade política no ano eleitoral. Não interessa a ninguém um ambiente deteriorado, porque o próximo governo vai ter que governar. Espero que seja o governo do presidente Lula, mas não interessa uma guerra de radicalidades para o próximo mandato, o que impediria o crescimento do Brasil, o que acredito que governo e oposição queiram. A crise é muito dura, mas não é atípica. O importante é que as instituições funcionem.

Lula perdeu os principais interlocutores e agora conta com o senhor. Ele está mais sozinho para enfrentar a reeleição?

TARSO: Conjunturalmente o centro dirigente do governo foi desestabilizado. Seria insanidade dizer qualquer coisa que não fosse isso, em função das renúncias ou demissões. O núcleo originário foi dissolvido. O presidente precisa montar novo núcleo político e ter um grupo dirigente com visibilidade para a sociedade e autoridade para dialogar com os partidos. Quando ele me nomeia, indica que uma pessoa pode entrar no cenário com capacidade de diálogo político porque não esteve envolvida nos contenciosos do período. Há uma transição.

Mas o que o presidente diz dessa situação?

TARSO: O presidente tem muito claro o que ele quer: uma estabilidade no processo eleitoral e que o próximo presidente tenha legitimidade política para governar.

Como o senhor se comportará diante das CPIs que investigam o governo? Na sexta-feira, o senhor disse que era a favor de o PT apresentar relatório paralelo na CPI dos Correios.

TARSO: O que eu disse é que um partido atingido por um relatório tem todo o direito de apresentar um paralelo. Mas não é que o relatório paralelo significa a opinião do governo. É uma opinião do PT, que vamos examinar e respeitar. Manifestei uma tese: qualquer partido tem o direito de apresentar o relatório. O governo ainda não se manifestou. Mas o que me pareceu adequado no relatório é que ele reconhece a impossibilidade de responsabilizar o presidente da República.

E a CPI dos Bingos?

TARSO: A CPI dos Bingos, independentemente dos desvios que ela tenha, é totalmente legítima. O governo discorda da amplitude que ela está tomando, se tornando uma espécie de Comissão Geral de Investigações. Se essa tendência se materializar no relatório, vai espalhar acusações sem nenhuma conseqüência objetiva. Isso desgasta o Estado e a CPI, o Parlamento.

Como o senhor vê a quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo Costa?

TARSO: O presidente me disse que, independentemente de quem tenha feito, é absolutamente inaceitável a violação do sigilo de uma pessoa. Palocci não depôs, não vou emitir juízo de qual foi seu procedimento. Espero, de maneira sincera, que ele não tenha determinado esse procedimento. Seria totalmente contrário à sua história.

Como vê a escolha de Alckmin como adversário de Lula?

TARSO: Se é verdade que a questão ética vai permanecer, ela não será principal. Não é possível que se tenha um ¿corruptômetro¿ para ver quem erra mais, quem viola mais leis. Sabemos que no Brasil a corrupção é sistêmica. O Alckmin representa determinado projeto para o país, espelhado nos oito anos de governo Fernando Henrique.

Teme boicotes no PT?

TARSO: Vou dialogar com todos os quadros políticos. No meu partido, não vou discriminar ninguém. Não temos que mascarar divergências, elas têm é que ser politizadas.