Título: MÃOS À OBRA!
Autor: CLÓVIS BRIGAGÃO
Fonte: O Globo, 03/04/2006, Opiniao, p. 7

Oolhar de um brasileiro e de um mexicano constata nas relações entre os dois países a riqueza de vínculos. No plano econômico, o Brasil e o México têm as maiores economias da América Latina. O que não representaria uma efetiva associação de livre comércio para nós e até mesmo para a América Latina? As divergências existentes, compreensíveis, ainda assim não anulariam as potencialidades dessa associação. Basta imaginar a reunião dos dois PIBs que somados alcançam cerca de US$1.35 trilhão ou a junção dos US$260 bilhões exportados por ambos em 2005.

Existem 18 empresas mexicanas cujo investimento no Brasil soma US$9.7 bilhões. No México, embora o investimento brasileiro seja muito menor, são 32 empresas com US$197 milhões. O comércio bilateral alcança US$4.9 bilhões, dos quais US$4 bilhões compõem o que o México compra do Brasil.

É mútua a simpatia. Essa relação cultural se sustenta na complementaridade dos trinta séculos das raízes culturais mexicanas e na vocação cosmopolita e voltada para o futuro que caracteriza o ser brasileiro.

A memória registra contribuições fundamentais para a cultura de cada país. Por exemplo, os casos do escritor Érico Verissimo no México e do diplomata Alfonso Reyes no Rio de Janeiro. Ou o fato de importantes personalidades e intelectuais brasileiros por lá terem vivido exilados, sem falar da importância do bolero mexicano como influência marcante no samba-canção e, mais tarde, na própria bossa nova.

O que dizer sobre a convergência existente entre o pensamento estético das cinematografias do Brasil e do México e a proximidade da invenção da linguagem entre Juan Rulfo e João Guimarães Rosa, assim como o encontro do barroco mexicano com o barroco de Minas? E a presença das telenovelas brasileiras no México e das mexicanas no Brasil? Para variar, qualquer pessoa no México vai torcer pelo futebol brasileiro nas Copas.

Há, no entanto, uma falta de vontade política para que essa associação se torne viável. Primeiro, há falta de reconhecimento sobre a importância real do outro. Segundo, a ausência de ação no sentido de honrar a própria grandeza para benefício recíproco. Ação que vá além do discurso oficial e, principalmente, a que transita nos expedientes dos canais mais tradicionais.

Ainda não percebemos a dimensão estratégica de nossa parceria, não só para nós mesmos mas também para a América Latina. As mudanças dos processos mundiais contemporâneos estão determinando também o desenvolvimento de novas formas de diplomacia. É preciso ampliar a atuação da diplomacia empresarial, da diplomacia cultural, da científico-tecnológica, da acadêmica e da cidadã. Elas representam novo patrimônio que pode abrir, bem instrumentalizadas, insuspeitadas oportunidades para a ordem de grandeza que representam o Brasil e o México. Mãos à obra!

CLÓVIS BRIGAGÃO é diretor-adjunto do Centro de Estudos das Américas da Universidade Candido Mendes. ANDRÉS ORDÓÑEZ é cônsul-geral do México no Rio.