Título: BIG BROTHER BRASIL
Autor: Mauro Halfeld
Fonte: O Globo, 03/04/2006, Economia, p. 16

A sexta versão do reality show Big Brother Brasil chegou ao fim na última semana. Mara entrou para o seleto clube dos milionários brasileiros. Entretanto, enquanto o BBB6 mobilizava grande audiência, no mundo das finanças, outro Big Brother começava a trabalhar. Discretamente, como é próprio do ramo. E, acredite, com alcance muito superior ao do programa da TV...

Big Brother é o apelido que foi dado ao novo supercomputador da Receita Federal. Seu nome de batismo é T-Rex, uma homenagem ao popular predador já extinto, o Tyrannosaurus Rex. Mas a história não acaba aí. Além de feroz, nosso Big Brother é extremamente inteligente. Seu cérebro é o festejado Harpia, um programa de inteligência artificial desenvolvido por engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Coincidência ou não, Harpia é também o nome da maior ave de rapina do Brasil. Nosso genial predador pode, por exemplo, cruzar simultaneamente informações de um banco de dados de todos os contribuintes, pessoas físicas e jurídicas, do Brasil e dos Estados Unidos. E ainda sobraria memória para uma boa partida de xadrez.

Bem, a questão-chave aqui é como esse avanço tecnológico vai afetar suas finanças. A resposta certa é: depende de seu perfil tributário. O Big Brother não vai incomodar quem está em dia com suas obrigações fiscais. Por outro lado, não é mera coincidência a convocação de milhares de brasileiros para explicar transações em seus cartões de crédito aparentemente incompatíveis com seus rendimentos. O Big Brother vai bisbilhotar detalhes da vida financeira de todos os contribuintes ¿ inclusive você. A CPMF da conta corrente, os imóveis que comprou ou vendeu e as transações com automóveis, aviões e embarcações são apenas algumas das informações que serão cruzadas com dados da fonte pagadora e também com o que for apresentado na declaração de Imposto de Renda do contribuinte. O fato é que a malha vai ficar muito, muito mais fina.

Uma arrecadação mais eficiente deveria reduzir alíquotas e beneficiar os bons pagadores. Mas, na prática, isso não acontece. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, em 2005, a carga tributária brasileira chegou ao recorde de 37,8% do PIB. Como equilibrar esse jogo? Precisamos de outro Big Brother! Uma supermáquina com foco nos gastos do governo, que atue antes que irregularidades e despesas pouco explicáveis sejam consumadas. Se esse programa sair do papel, será um grande campeão de audiência.

O LEITOR PERGUNTA

O que muda com o novo ministro da Fazenda?

Infelizmente, muito pouco. Se suas aplicações estiverem diversificadas, tudo o que você leu e ouviu nos últimos dias terá um impacto mínimo no patrimônio daqui a dez ou vinte anos. No fim, cabe a você correr para pagar as contas, fazer sobrar dinheiro e garantir seu futuro financeiro.