Título: Oposição tenta ouvir Bastos
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 04/04/2006, O País, p. 3

PSDB, com apoio do PFL, apresenta requerimento para ouvir ministro da Justiça no caso do caseiro

Olíder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, com o apoio do PFL, apresentou ontem requerimento para convocar o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a prestar esclarecimentos sobre a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Ao mesmo tempo, o presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), propôs que os dois assessores de Bastos que se reuniram com Palocci para tratar da investigação sejam convocados a depor na comissão.

Para Morais, os dois subordinados de Thomaz Bastos ¿ o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, e o chefe de gabinete, Claudio Alencar, que foram à casa de Palocci na noite do dia 16 de março e se encontraram com ele no dia seguinte ¿ não teriam condições de investigar o caseiro sem autorização do ministro.

¿ Estou pedindo que ele (Bastos) venha ao plenário do Senado. Estamos diante da violação do sigilo do caseiro e do pai dele. Qual a interferência do ministro da Justiça nisso? Esse fato sozinho é mais grave do que o mensalão porque foi uma quebra de sigilo para proteger corrupção ¿ afirmou Virgílio. ¿ Se ele (Bastos) não soube é gravíssimo. Se soube e pediu ao presidente providências e o presidente não as tomou, é gravíssimo.

A convocação ¿ que precisa ser aprovada com um voto a mais do que a metade dos senadores presentes ¿ recebeu ontem mesmo o apoio dos pefelistas e até do senador Antônio Carlos Magalhães (BA), amigo de Bastos. O pefelista baiano disse que não apoiaria a convocação do ministro pela CPI dos Bingos, mas concorda com a ida dele ao Senado.

¿ Acho que deve ser do interesse dele (Bastos) vir. Esse episódio precisa ser explicado, do contrário os brasileiros deverão entender que a quebra de sigilo foi uma ação de governo ¿ concordou o líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN).

Para o pefelista, a convocação ao plenário é mais adequada porque não gera o questionamento de que o fato investigado foge ao objeto da CPI.

Petista lembra investigações da PF

O vice-líder do governo, Tião Viana (PT-AC), leu em plenário a nota que o Ministério da Justiça divulgou para explicar a atuação de Goldberg e Alencar no caso. O senador destacou que os dois prestaram depoimento voluntariamente à Polícia Federal e que, após a divulgação da violação do sigilo, o ministro da Justiça mandou instaurar inquérito no primeiro dia útil. Lendo o documento, o petista acrescentou que as investigações da PF esclareceram a participação de funcionários da Caixa no episódio e até levaram ao indiciamento do ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso. O senador lembrou ainda que a investigação é acompanhada pelo Ministério Público Federal.

¿ Eles (os assessores de Bastos) foram espontaneamente prestar esclarecimentos. Qual a suspeita que pesa sobre a PF? O governo mandou apurar tudo ¿ completou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), que defendeu também Alencar e Goldberg. ¿ Primeiro é preciso comprovar que os auxiliares do ministro tiveram algum comportamento que não tenha sido correto. E o fato de os assessores de alguém estarem envolvidos não quer dizer que o superior direto seja o responsável.

Para Efraim, antes de convocar o ministro, a CPI precisa analisar os depoimentos dos assessores de Bastos.

¿ Com esses depoimentos, vamos fazer o cruzamento e ver se é necessário ouvir mais gente. Há dúvidas. A primeira é se os assessores do ministro teriam autonomia para solicitar a investigação. E o ministro Palocci iria solicitar a investigação sem ter o extrato em mãos? ¿ pergunta o presidente da CPI.

Segundo ele, a convocação de Mattoso para prestar novo depoimento deve ser aprovada hoje ou amanhã.

¿ Mattoso deve voltar porque ele mentiu à CPI.