Título: Palocci planejou transferir inquéritos sobre sua gestão para esfera federal
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 04/04/2006, O País, p. 4

Ex-ministro consultou auxiliares de Thomaz Bastos sobre a possibilidade

BRASÍLIA. Dez dias antes de ser demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci planejou, sem sucesso, transferir as investigações da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo sobre supostas fraudes na prefeitura de Ribeirão Preto para a Polícia Federal. Em duas reuniões que teve com o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, e com o chefe de gabinete do Ministério da Justiça, Cláudio Alencar, nos dias 16 e 17 do mês passado, Palocci também quis saber como poderia tirar da esfera estadual as investigações sobre sua gestão em Ribeirão Preto.

A Polícia Civil ainda estava sob o comando do então governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República. Coube a Alckmin também, como governador, nomear o procurador-geral de Justiça, o chefe do Ministério Público estadual. A Polícia Federal é vinculada ao Ministério da Justiça.

Palocci queria frear investigação de Valencise

As revelações sobre a preocupação de Antonio Palocci em transferir as investigações sobre as fraudes em Ribeirão Preto para a esfera federal foram feitas por Alencar e Goldberg ao delegado da Polícia Federal Rodrigo Carneiro Gomes. O delegado preside o inquérito sobre a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa na sua conta na Caixa Econômica Federal.

Palocci se reuniu com Goldberg nos dias 16 e 17 para pedir que a Polícia Federal passasse a investigar Francenildo por lavagem de dinheiro. Durante um dos encontros, o ex-ministro perguntou também o que deveria fazer para tirar as investigações sobre Ribeirão do âmbito da polícia paulista. Alencar e Goldberg responderam que a transferência só poderia ser pleiteada com uma reclamação direta ao Supremo Tribunal Federal (STF). Como era ministro, Palocci só poderia ser investigado em inquéritos oficiados pelo STF. Para o ex-ministro, o delegado da Polícia Civil de Ribeirão Preto Benedito Antonio Valencise estaria usurpando poderes do Judiciário ao investigá-lo sem a devida autorização do Supremo Tribunal Federal.

Dez dias depois, Palocci deixou o governo e perdeu o foro privilegiado. O calvário de Palocci começou com as investigações da Polícia Civil e do Ministério Público estadual sobre supostos pagamentos de propina da empresa Leão & Leão para auxiliares de Palocci no período em que ele esteve à frente da prefeitura de Ribeirão. O dinheiro seria para financiar campanhas eleitorais do PT. Embora o caso não tenha vínculo direto com a quebra do sigilo de Francenildo, Antonio Valencise pediu ontem à PF para acompanhar o depoimento de Palocci marcado para amanhã. O pedido foi rejeitado.

Delegado queria impedir saída de Palocci do país

Valencise também pediu para que a Polícia Federal impedisse uma eventual saída de Palocci do país. Para a PF, Valencise estaria tentando pegar uma carona na publicidade do caso, o escândalo mais rumoroso do governo federal neste início de ano.