Título: Raves, uma preocupação para os pais
Autor: Paula Autran
Fonte: O Globo, 04/04/2006, Rio, p. 15

Festas com música eletrônica estão associadas ao consumo de ecstasy

A idéia martela a cabeça dos pais no pior ritmo bate-estaca: onde há música eletrônica, há drogas, principalmente ecstasy. A fama das chamadas raves ¿ como ficaram popularmente conhecidas as festas com essa trilha sonora ¿ é a de antros de drogas sintéticas. Não por acaso, revistas especializadas em música eletrônica como a inglesa ¿Mixmag¿ dedicam espaço fixo em suas edições mensais para informar os leitores sobre os efeitos das drogas.

O psiquiatra Jorge Jaber, diretor de uma clínica de desintoxicação no Leblon, dá pistas de como surgiu essa associação.

¿ As raves geralmente começam tarde e duram até o fim da manhã do dia seguinte. O usuário recorre a drogas que o mantenham acordado, estimulado. Por outro lado, essas drogas atraem porque criam fortes estímulos sensuais ¿ diz Jaber. ¿ E o ecstasy provoca perda de líquidos intensa, levando à desidratação. Daí a quantidade de garrafas d¿água nas raves.

Festas começaram nos anos 80 na Inglaterra

Mas o que as tais raves têm de diferente das festas tradicionais? Inicialmente divulgadas boca a boca, telefone, e-mails e filipetas distribuídas de modo relâmpago em pontos estratégicos ¿ daí o nome derivar de rant and rave, que em inglês significa espalhar algo no boca a boca ¿ para fugir da fiscalização da polícia, elas geralmente eram ambientadas em galpões abandonados ou grandes áreas ao ar livre, animadas por DJs. Isso foi nos anos 80 na Inglaterra e 90 no Brasil.

Hoje, depois de conquistar um grande público e bons patrocínios, as raves perderam a essência: ganharam infra-estrutura, como qualquer show ou festival, passando a acontecer em locais fixos, como qualquer festa. Só que à base de música eletrônica.

Alguns estudiosos associam os adeptos do trance ¿ um dos tipos de música eletrônica ¿ aos hippies. Para o DJ Hardy, do site Anasthasia, foram as festas de psytrance (trance psicodélico nascido na Índia) que trouxeram a moda do ecstasy:

¿ Os organizadores queriam elitizar suas festas, uma vez que a música eletrônica surgiu nas periferias. A droga é cara e atraiu boyzinhos e carrões. Tem gente que nem curte música eletrônica e vai para experimentar ecstasy. Mas a verdade é que esse tipo de droga tem em qualquer lugar, até em pagode.

`Até em jogo de futebol se compra qualquer droga¿

Para Cláudia Assaf ¿ jornalista e DJ que escreveu o livro ¿Todo DJ já sambou¿, sobre a história dos DJs no Brasil ¿ o que há hoje no Brasil e no mundo é uma generalização.

¿ Associa-se muito o ecstasy às raves, mas ele é consumido em vários outros lugares onde os jovens se reúnem. Até em jogo de futebol se compra qualquer tipo de droga. Não é exclusividade das raves ¿ diz Cláudia, lembrando que cada droga tem um efeito. ¿ A maconha, por exemplo, é mais relaxante. A cocaína deixa a pessoa agitada. Já o ecstasy é conhecido como uma droga socializante, que causa desinibição. É a droga deste milênio, assim como nos anos 70 e 80 se consumiam outras nas discotecas. Além disso, há vários tipos de raves. Nas hard-techno, consome-se mais cocaína, em outras rola mais maconha. Conheço muitas pessoas que freqüentam raves e nunca tomaram drogas sintéticas.