Título: LULA ONTEM, MORALES HOJE
Autor: Eliane Oliveira e Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 04/04/2006, Economia, p. 21

Boliviano é aplaudido com discurso contra pobreza

BELO HORIZONTE. O presidente da Bolívia, Evo Morales, teve ontem na capital mineira um dia que lembrou os primeiros meses do governo Lula. Em sua primeira participação em evento de um organismo multilateral, Morales falou de improviso por quase meia hora, abusou das referências às suas origens indígenas e usou frases de efeito para protestar contra a pobreza e as políticas neoliberais, que prejudicaram seu país. Morales, o único no auditório com mais de mil pessoas que não vestiu terno, afirmou que está fazendo uma revolução democrática e cultural no país. E garantiu que vai se empenhar para que os recursos naturais da Bolívia, entre eles o gás, beneficiem a maioria da população.

¿ Não é possível que em meu país 67% da população vivam na pobreza e 45%, na extrema pobreza. Não é possível que políticas econômicas importadas não resolvam nossos problemas. Não é possível que as empresas continuem saqueando nossos recursos naturais sem levar em conta as necessidades da maioria do nosso povo.

Segundo Morales, o neoliberalismo é uma solução econômica para vários países, mas não para a Bolívia. Ele falou sobre as condições de vida no seu país, com uma referência emocionada às dificuldades dos pobres para se alimentarem. Ele chegou a mencionar a mãe, que há 60 anos não podia andar nas calçadas das cidades por ser de origem indígena. A semelhança com a trajetória do migrante nordestino que se elegeu presidente do Brasil foi inevitável:

¿ Vive-se nos campos como se vive nos bairros, em total pobreza, pensando em como conseguir recursos econômicos para, pelo menos, poder tomar café da manhã. Essa é a situação nos bairros do meu país: o café da manhã é um café com pão; ao meio-dia toma-se uma sopa; à noite, outro café e pão. Muita gente acaba por abandonar a Bolívia para talvez conseguir trabalho em outros países.

Morales, como Lula em suas participações em encontros internacionais, foi muito aplaudido. Por fim, ele assegurou a segurança dos contratos com as empresas e instituições que chama de ¿refundação¿ de seu país. (EO e FO)