Título: BRASIL ATINGE RECORDE COMERCIAL DE US$200 BI
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 04/04/2006, Economia, p. 23

Acumulado em 12 meses da corrente de comércio é resultado de vendas de US$123 bi e compras de US$77 bi

BRASÍLIA. Os sucessivos recordes de exportações e importações do Brasil fizeram com que a corrente de comércio do país atingisse a marca inédita de US$200 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses. O valor foi obtido graças a vendas externas de US$123,2 bilhões e compras de US$77,44 bilhões no período. Segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, apesar do real sobrevalorizado a balança comercial registrou os melhores resultados de sua história no primeiro trimestre de 2006, sendo que, em março, apenas as importações não foram recordes.

¿ Foi a primeira vez que a corrente de comércio superou US$200 bilhões. Esse é um número para ser comemorado. Aumentar a corrente de comércio é o objetivo de qualquer país em desenvolvimento ¿ disse o secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, destacando que o país deve cumprir com folga a meta de exportações para este ano, de US$132 bilhões.

Entre janeiro e março, as exportações chegaram a US$29,388 bilhões, um aumento de 16,4% em relação ao ano passado. Já as importações somaram US$20,042 bilhões e subiram na comparação com 2005 de forma mais acelerada: 20,2%. Com isso, o superávit da balança foi de US$9,346 bilhões. Esses foram os melhores resultados já obtidos para os três primeiros meses do ano.

Em março, exportação de manufaturados cresce 13,9%

Somente em março, as exportações foram de US$11,367 bilhões, um recorde para qualquer mês. Já as importações ficaram em US$7,686 bilhões, só perdendo para agosto de 2005 (US$7,689 bilhões). O saldo da balança no mês ficou em US$3,681 bilhões, melhor resultado para março.

Meziat destacou que em março houve alta significativa nas vendas de manufaturados: 13,9% em relação a 2005. Essas exportações somaram US$6,414 bilhões, maior valor mensal já registrado para essa categoria, que inclui automóveis, aviões e aparelhos transmissores e receptores. No trimestre, as vendas de manufaturados também foram recordes, chegando a US$16,622 bilhões.

¿- Os produtos manufaturados têm maior valor agregado. Isso gera mais riqueza e empregos ¿ disse o secretário, destacando que as vendas de manufaturados só costumam ganhar força no segundo semestre do ano.

Mas os produtos básicos e semimanufaturados também registraram recordes para o mês de março: US$3,158 bilhões e US$1,542 bilhão, respectivamente. Eles também tiveram o melhor resultado para o primeiro trimestre, respectivamente de US$7,987 bilhões e US$4,055 bilhões.

Apesar de ter atingido o melhor resultado de corrente de comércio acumulado em 12 meses, o Brasil ainda está muito aquém dos principais países que atuam no comércio mundial ou mesmo de nações em desenvolvimento. Enquanto o resultado brasileiro é de US$200 bilhões, o dos Estados Unidos é de US$2,344 trilhões; o da China, de US$1,154 trilhão; e o do México, de US$395 bilhões.

Mesmo assim, Meziat destacou que, em países com economia relativamente aberta, a relação corrente de comércio/PIB fica em torno de 30%. No Brasil esse percentual está em 25%. Ele também disse que o fato de as importações estarem subindo ¿ o que reduz o saldo comercial ¿ não é motivo de preocupação para o governo, pois, em 12 meses, o saldo está em US$45,7 bilhões.

Câmbio levou empresas a saírem do comércio exterior

O secretário divulgou também os primeiros resultados de um estudo sobre empresas que deixaram de exportar em 2005. O trabalho se concentrou em empresários que exportam anualmente até US$100 mil e mostrou que, enquanto 2.593 entraram no mercado em 2005, outros 3.662 saíram. Um dos motivos apresentados foi a perda de competitividade por causa do câmbio.

¿ Cerca de 75% dessas empresas não são exportadoras freqüentes. Muitas só participaram do comércio exterior em 2004 ¿ disse Meziat, ressaltando que o fato de mais empresas terem saído que entrado no comércio exterior foi atípico.

Ele também lembrou que entrou em vigor ontem o acordo pelo qual a China se comprometeu a limitar suas exportações de têxteis para o Brasil.