Título: Governo tenta evitar a convocação de Bastos para depor no Congresso
Autor: Cristiane Jungblut/Bernardo de la Peña/Ilimar Fran
Fonte: O Globo, 05/04/2006, O País, p. 4

Planalto e oposição conversam para tentar diminuir temperatura da crise

BRASÍLIA. O governo quer adiar ao máximo a votação do requerimento de convocação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para explicar no Congresso sua participação no episódio que resultou na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Está em curso um entendimento com a oposição de que, se for inevitável a convocação, Bastos fale no plenário do Senado e não na CPI dos Bingos. Na operação para diminuir a temperatura da crise entraram pessoalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o novo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

Já os dois assessores do Ministério da Justiça, o chefe de gabinete Cláudio Alencar e o secretário de Direito Econômico Daniel Goldberg, segundo o presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), serão convocados para prestar esclarecimentos à comissão.

Depois de ir ontem à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), crítica contumaz do governo, Tarso Genro articula um encontro com a oposição. Em reunião com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), Tarso pediu que marcasse encontro com líderes da oposição, começando pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que apresentou o requerimento de convocação de Bastos. O encontro deverá ser amanhã:

- É natural que no ambiente de disputa eleitoral a linguagem fique exacerbada. Mas isso não pode degradar o ambiente político. O próximo presidente vai ter que governar com estabilidade - disse Tarso, que voltou a defender o colega da Justiça. - O ministro me disse para ficar absolutamente tranqüilo. Não há fundamentação ou fato, nada que revele qualquer participação do ministro Márcio Thomaz Bastos nesses eventos.

Para OAB, a crise éperigosa e imprevisível

Na noite de segunda-feira, o presidente Lula se reuniu com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP) pedindo o empenho para evitar que a oposição use o episódio para desgastar o governo e Thomaz Bastos. O presidente teria considerado exagero a tentativa de convocar o ministro. Avaliou-se que após a queda de Palocci a oposição precisava atacar outro membro do governo para manter a estratégia de sangrar a popularidade de Lula.

A oposição quer ouvir o ministro, e o presidente do Senado não vai engavetar o requerimento de convocação. Na oposição, o ministro conta com a simpatia do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA):

- Na CPI eu não deixo. Se o doutor Márcio tiver de vir tem que ser no plenário, onde o ambiente é mais respeitoso - disse Antonio Carlos, que tem mantido contatos com o ministro da Justiça nos últimos dias.

- O ministro é advogado em causa própria. Ele tem que explicar porque a PF foi usada para pressionar o caseiro e porque a PF ajudou a tentar encontrar uma saída para Palocci - critica o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

Na OAB, Tarso Genro ouviu críticas à crise envolvendo o governo, chamada até de lama. O presidente da OAB, Roberto Busato, disse que Bastos tem que ser transparente, e cabe a ele dar explicações. E que a crise tem conseqüência imprevisível.

- É um desdobramento da crise que atingiu o ministro Palocci e não uma crise que atinge o Lula. Essa crise parece a crise do lenço de papel: puxa uma e aparece outra. É ai que se torna uma crise absolutamente perigosa e imprevisível.

COLABORARAM Ilimar Franco e Bernardo de La Peña