Título: Ex-presidente da Câmara, João Paulo será julgado hoje
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Fonte: O Globo, 05/04/2006, O País, p. 9

No Conselho, Josias Gomes tem cassação recomendada

BRASÍLIA. Por dez votos a um, o Conselho de Ética da Câmara aprovou ontem a cassação do mandato de mais um petista: o deputado Josias Gomes (BA), que recebeu R$100 mil das contas do empresário Marcos Valério de Souza. Hoje à noite os deputados julgam, no plenário, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Pelos corredores do Congresso ontem alguns parlamentares apostavam na absolvição do petista.

- O resultado é imprevisível. A gente não sabe o que pode influenciar uma votação como esta - dizia João Paulo Cunha ontem de manhã.

Seqüência de pizzas pode levar à cassação

A aposta de petistas e aliados é que, além dos votos desse grupo, João Paulo poderá ser favorecido pelas amizades que conquistou durante os dois anos em que foi presidente da Câmara. Mas a seqüência de absolvições aprovada pelo plenário nas últimas semanas é justamente o que pode levar à cassação de João Paulo Cunha. Além disso, teria ficado clara a mentira de João Paulo ao negar o dinheiro recebido de Marcos Valério, o que pode ser fatal para ele.

O deputado Josias Gomes, que deixou cópia da sua carteira parlamentar no Banco Rural quando foi lá sacar o dinheiro, justificou que fez uso de caixa dois por orientação do então tesoureiro do PT Delúbio Soares e que foi, portanto, involuntariamente induzido a erro. Perguntado se não teme a cobrança da opinião pública, respondeu:

- A opinião pública também erra. Jesus Cristo também foi punido pela opinião pública e Hitler teve o apoio da opinião pública.

O relatório do deputado Mendes Thame (PSDB-SP) foi aprovado por dez votos a um no Conselho - apenas a petista Neyde Aparecida (GO), que substitui Ângela Guadagnin (PT-SP), votou a favor do colega de partido.

Na reunião, o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), anunciou o afastamento de Ângela Guadagnin, mas disse que, se a Mesa da Câmara enviar uma ordem por escrito dizendo que ela deve permanecer no colegiado, não haverá resistência.

Para o relator Mendes Thame, ficou claro que Josias Gomes recebeu vantagem indevida, o que caracteriza falta de decoro parlamentar. Gomes acredita na possibilidade de ser absolvido em plenário:

- Espero ser absolvido, como todas as pessoas que involuntariamente foram induzidas ao erro - afirmou, voltando a argumentar que o fato de ter deixado a identidade parlamentar no banco prova que não cometeu ato ilícito

- Não dá para ignorar que foram infringidas normas legais no recebimento de dinheiro para beneficiar políticos da Bahia - contestou Mendes Thame.

Para Neyde Aparecida, que havia pedido vista do parecer, não houve quebra de decoro parlamentar.