Título: ACAREAÇÃO TEVE BATE-BOCA E ACUSAÇÕES
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 05/04/2006, O País, p. 10

Okamotto chama de fantasia o esquema ilegal denunciado

BRASÍLIA. Os problemas entre Paulo Okamotto e Paulo de Tarso Venceslau começaram em 1992, depois da reunião em que foi feita a denúncia sobre o esquema de arrecadação ilegal. Okamotto teria chamado a atenção do economista. Na acareação promovida pela CPI dos Bingos, Okamotto alegou que falou apenas como companheiro de partido porque Paulo de Tarso estava expondo a "autoridade máxima do PT" (Lula).

Depois disso, segundo Paulo de Tarso, Okamotto teria pedido a então prefeita e hoje deputada Ângela Guadagnin, conhecida como a sambista da pizza, uma lista dos fornecedores da prefeitura para que ele tentasse obter recursos para campanhas junto a essas empresas. O petista nega. Além destes dois episódios, Tarso diz ter procurado Lula para apresentar as medidas tomadas por ele contra a CEPEM, mas admite que o presidente, na época, orientou-o a continuar adotando a mesma conduta.

Paulo de Tarso ainda citou relatório de investigação interna do PT para acusar Okamotto de ter recolhido listas de fornecedores de prefeituras para pedir recursos para o partido.

- Nunca pedi lista ao senhor, a prefeita (na época Ângela Guadagnin), e nem a nenhum outro prefeito. Isso é mentira! - negou Okamotto.

- É uma fantasia de que eu circulava pelas prefeituras - completou o petista.

- O PT mudou e fui expulso quando o partido já tinha mudado - afirmou Tarso.

Amigo de Lula acusou ex-petista de mentiroso

Tarso atribuiu ainda a sua demissão da prefeitura de São José dos Campos a um pedido de Okamotto, que teria ocorrido em setembro de 1993, dias depois de o petista ter reclamado com ele que a CEPEM não estava contribuindo para a realização da "Caravana da Cidadania", espécie de pré-campanha eleitoral feita por Lula.

- Fui exonerado pela prefeita, aos prantos, que me disse que havia recebido orientação do diretório regional, por ordem do Okamotto - disse Tarso.

Okamotto, que chamou Tarso por dezenas de vezes de mentiroso, negou ter sido o responsável pelas irregularidades atribuídas a ele e disse que não pediu a demissão de Tarso. Segundo ele, o economista - que na acareação o chamou de "ex-companheiro e ex-amigo" - foi afastado à pedido dos vereadores e por desentendimentos com outros secretários. O senador Tião Viana (PT-AC) disse que outros três secretários foram exonerados no mesmo dia, o que caracterizaria uma mudança administrativa, não uma perseguição.

Tarso entregou à CPI o relatório da sindicância, instalada pelo PT quatro anos depois da sua demissão, feito por José Eduardo Martins Cardozo, Hélio Bicudo e Paul Singer. Hoje, a CPI deve votar requerimento para convocar o ex-presidente da Caixa Econômica Jorge Mattoso.