Título: Patrimônio de fiscais inclui prédios inteiros
Autor: Chico Otavio e Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 05/04/2006, Economia, p. 24

Lista mostra predileção por imóveis na Barra e no Recreio, alguns de frente para o mar e de até R$1 milhão

Apartamentos de até R$1 milhão, carros importados, construção de prédios fazem parte da rotina de alguns dos acusados de envolvimento no esquema de corrupção na Delegacia Regional do Trabalho no Rio. Dinézio Carlos Ornelas de Paiva, em sociedade com sua mulher, Cláudia de Moura Monteiro de Paiva, também fiscal do trabalho, e outros colegas, construiu dois prédios de três andares, totalizando 32 apartamentos, no Recreio dos Bandeirantes, com três vagas de garagem, que estão valendo entre R$220 mil e R$280 mil, se for de frente.

Escrituras obtidas em cartórios de registro de imóveis do Rio mostram que, em 2000, seus sócios e ele contrataram a empresa Perfato 2 Arquitetura para erguer os dois prédios, um na Avenida Genaro de Carvalho 725 e o outro na Rua Professor Taciel Cylleno 714. Em nome de Dinézio constam mais cinco imóveis, sendo três lotes em Saquarema, um escritório e um apartamento no Recreio.

As certidões de Dinézio revelam, ainda, que os fiscais do trabalho faziam negócios entre si. Em outubro de 2003, por exemplo, ele, junto com a mulher e o fiscal Cândido da Rocha Cabral, venderam para o colega Mário Roberto de Souza Santiago dois terços do apartamento 103 da Avenida Genaro de Carvalho 725, com três vagas de garagem.

Mário Roberto, além do imóvel na Genaro de Carvalho, é dono de outras três propriedades (dois apartamentos e um terreno). Ele mora em um destes imóveis, um flat no La Reserve Hotel Residence (Avenida Lúcio Costa 5750/1108), que vale cerca de R$275 mil. Em Teresópolis, há outro, num dos endereços nobres da cidade, no Alto. O apartamento fica num prédio com piscina e sauna e vale R$130 mil.

Carros de luxo de quase R$50 mil

Os cartórios mostram a volumosa movimentação imobiliária do fiscal Carlos Alberto Paúra. De 1988 a 2004, foram registrados 13 negócios envolvendo apartamentos, terrenos e lojas, a maioria na Barra da Tijuca. O apartamento onde mora atualmente, na Avenida Lúcio Costa 1120/1307, foi comprado em 1995. Hoje, pode ser vendido por R$400 mil.

Nas certidões de Fabiano Rossi das Neves aparecem negócios do fiscal envolvendo empresas de paraísos fiscais. Ele é dono de lojas em dois shoppings da Barra da Tijuca (Avenida das Américas 7907/ sala 210, Bloco III, e Avenida das Américas 700/sala 206, Bloco G). Uma delas está avaliada em R$300 mil. As restantes, em R$120 mil.

Outro suspeito, o fiscal Emanuel de Jeson da Costa Avelino, pode conseguir até R$1 milhão pelo seu apartamento no condomínio Atlântico Sul, com três vagas de garagem e condomínio de R$1.500, fora o IPTU de R$8 mil. Mais os outros quatro imóveis da lista, o patrimônio sobe para quase R$1,3 milhão.

Os carros são outro sinal de enriquecimento. O fiscal Mário Santiago tem duas picapes Toyota dos modelos mais caros: uma 1998, avaliada em R$30 mil, e outra 2002, em R$48 mil. Carro da mesma marca, Toyota, tem Dinézio de Paiva: um modelo Corolla avaliado em R$28 mil.

As prisões encerram apenas uma primeira etapa de investigações. O inquérito deverá ser desdobrado, sem afetar o que já foi comprovado, para que Polícia Federal e Ministério Público possam levantar o enriquecimento ilícito e o acúmulo de bens incompatíveis com os rendimentos dos acusados de integrar a quadrilha.

BENS SOB SUSPEITA